A paralisação dos camionistas, sob o alto patrocínio de uma auto-proclamada comissão organizadora, incomodou-me e fez-me recordar o Chile, a CIA e Pinochet. Incomodou-me o silêncio dos Sindicatos (salvo do Carvalho da Silva que tomou uma posição correcta, como sindicalista esclarecido que é) e o apoio (ainda que silencioso nalguns casos) de todo o espectro partidário, à luta dos valorosos cavaleiros do asfalto.
Dizia um entrevistado, muito revoltado : “… como vamos trabalhar ? Com café, leite e pão, ainda andamos, mas sem carro, não vamos a lado nenhum…”, enquanto uma senhora com o carrinho cheio de compras, exaltada comentava: “…eles estão a lutar por nós…a maioria está adormecida, mas estes estão a revoltar-se e fazem bem…“ .
Incomoda-me este tipo de argumentos e incomoda-me que a comunicação social desvalorize sistematicamente o trabalho dos partidos e dos políticos e valorize este tipo de “reality show” em directo, com os cromos mais à mão.
Com o apoio mais que suspeito de quase toda a opinião publicada, incomoda-me que dois ou três arrivistas tenham conseguido organizar uma paralisação, imposto a sua vontade de forma arrogante e tenham parado o país, o que conseguiram parcialmente. Ou será que estou enganado e devo conformar-me, uma vez que esta classe política, que nos governa e que apenas admite os incapazes e os capazes de tudo, estava mesmo a pedi-las ?
Mas, afinal, para além do sucesso mediático, que mais conseguiram os camionistas ? Nada de particularmente relevante, pelo que li. Os meios, terão sido, afinal, os fins que os promotores tinham em vista. Uma manifestação de força, a ameaça de poder parar o país e, pelo caminho, pesar a capacidade de resposta do Governo e aproveitar a vaga de fundo para humilhar o executivo e fragilizar o PM, que vai perdendo o brilho e a vantagem para a concorrência.
Coincidência ou não, a esta paralisação que foi o auge da crise petrolífera, antes da silly season, sucedeu o Congresso do PSD/PPD. Manuela Ferreira Leite, com meia dúzia de chavões, viu a sua figura fortemente revigorada, em função do da boa imprensa que tem e da forte propaganda que a SIC lhe concedeu. O PSD corre mais forte para suceder ao PS.
Não é, todavia, o menor brilho do PM e a notoriedade de Manuela Ferreira Leite que me tiram o sono. Incomoda-me esta incapacidade do Governo de saber usar a autoridade que lhe é conferida democraticamente. Incomoda-me esta incapacidade de saber separar as águas, por parte da oposição de esquerda.
Habituei-me a ouvir o apelo à unidade na acção entre trabalhadores, intelectuais e pequenos e médios empresários, contra o capitalismo monopolista e a exploração, mas incomoda-me que não houvesse uma descolagem clara da esquerda em relação a este movimento, porque concordo, inteiramente, com José Miguel Júdice quando escreve: “… a acção dos camionistas é protofascista …. os movimentos de pequenos patrões em cólera, liderando os seus trabalhadores numa espécie de corporativismo de base, habitados por violência e sem enquadramento ideológico e estratégico, nunca se traduzem num avanço do “proletariado”, mas numa futura instrumentalização – quiçá paradoxal – por uma liderança autoritária e populista, que acaba por fazer recuar o processo de emancipação social…”
Dizia um entrevistado, muito revoltado : “… como vamos trabalhar ? Com café, leite e pão, ainda andamos, mas sem carro, não vamos a lado nenhum…”, enquanto uma senhora com o carrinho cheio de compras, exaltada comentava: “…eles estão a lutar por nós…a maioria está adormecida, mas estes estão a revoltar-se e fazem bem…“ .
Incomoda-me este tipo de argumentos e incomoda-me que a comunicação social desvalorize sistematicamente o trabalho dos partidos e dos políticos e valorize este tipo de “reality show” em directo, com os cromos mais à mão.
Com o apoio mais que suspeito de quase toda a opinião publicada, incomoda-me que dois ou três arrivistas tenham conseguido organizar uma paralisação, imposto a sua vontade de forma arrogante e tenham parado o país, o que conseguiram parcialmente. Ou será que estou enganado e devo conformar-me, uma vez que esta classe política, que nos governa e que apenas admite os incapazes e os capazes de tudo, estava mesmo a pedi-las ?
Mas, afinal, para além do sucesso mediático, que mais conseguiram os camionistas ? Nada de particularmente relevante, pelo que li. Os meios, terão sido, afinal, os fins que os promotores tinham em vista. Uma manifestação de força, a ameaça de poder parar o país e, pelo caminho, pesar a capacidade de resposta do Governo e aproveitar a vaga de fundo para humilhar o executivo e fragilizar o PM, que vai perdendo o brilho e a vantagem para a concorrência.
Coincidência ou não, a esta paralisação que foi o auge da crise petrolífera, antes da silly season, sucedeu o Congresso do PSD/PPD. Manuela Ferreira Leite, com meia dúzia de chavões, viu a sua figura fortemente revigorada, em função do da boa imprensa que tem e da forte propaganda que a SIC lhe concedeu. O PSD corre mais forte para suceder ao PS.
Não é, todavia, o menor brilho do PM e a notoriedade de Manuela Ferreira Leite que me tiram o sono. Incomoda-me esta incapacidade do Governo de saber usar a autoridade que lhe é conferida democraticamente. Incomoda-me esta incapacidade de saber separar as águas, por parte da oposição de esquerda.
Habituei-me a ouvir o apelo à unidade na acção entre trabalhadores, intelectuais e pequenos e médios empresários, contra o capitalismo monopolista e a exploração, mas incomoda-me que não houvesse uma descolagem clara da esquerda em relação a este movimento, porque concordo, inteiramente, com José Miguel Júdice quando escreve: “… a acção dos camionistas é protofascista …. os movimentos de pequenos patrões em cólera, liderando os seus trabalhadores numa espécie de corporativismo de base, habitados por violência e sem enquadramento ideológico e estratégico, nunca se traduzem num avanço do “proletariado”, mas numa futura instrumentalização – quiçá paradoxal – por uma liderança autoritária e populista, que acaba por fazer recuar o processo de emancipação social…”
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