CONTRAPONTO IMPERFEITO
Sinto-me isolada no meio da turba que passa!
Ferem-me os olhos as luzes da cidade engalanada,
Desnorteia-me o movimento das ruas
E as pessoas que se cruzam apressadas,
Animadas duma alegria momentânea ,
Parecem-me fantasmas.
Entontece-me o bulício
E a música de circunstância,
Os carros faiscantes de cromados
E os pregões insistentes.
Causam-me náuseas as montras enfeitadas……
Aos meus ouvidos soa o eco longínquo da guerra implacável que separa os homens,
O ranger de dentes,
O grito de revolta
E a voz da razão debatendo-se numa luta sem tréguas.
E dói-me pensar na injustiça
E nas chagas hediondas que se geram à face da terra.
Dói-me a desigualdade
E a imperfeição,
Os que têm por vestes a nudez,
Por prazer o acre sabor das lágrimas
E por companhia o espectro da sombra.
Dói-me a indiferença do meu semelhante,
Gélida,
Impassível,
Amordaça do silêncio em cada boca,
A inutilidade de cada gesto,
Os braços que se estendem vazios,
O pão da fome em cada mesa,
O frio da noite em cada leito
E a farsa e o drama de mãos dadas
Que cada um representa no palco da vida…
Dói-me a inexpressão dos que não meditam,
Nem possuem o sentido exacto das coisas
E gravitam como meteoros,
Insensíveis,
Sem conhecerem nunca a maravilhosa plenitude do amor…
Vejo as estrelas
E sinto-as mais e mais afastadas
E doem-me todos os seres
Que vivem agrilhoados à sua ínfima pequenez,
A uma ânsia de evasão.
Os que vagueiam sem rumo
E se encontram sós,
Perdidos na multidão…
E dói-me ainda mais saber que eu sou eu
Neste dia perfeito,
Completo,
Universal,
Que é um apelo de fraternidade
E uma mensagem de paz aos homens de boa vontade!...
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