Mário Martins
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“Em 2023, 2050 parecia um ano distante, mas as projecções e cenários já davam uma ideia do que podíamos esperar.”
Revista do Expresso, de 4 de Agosto passado.
“É Quinta-Feira, dia 4 de Agosto de 2050. Está um dia quente como agora está quase sempre. Já não temos uma ou duas ondas de calor por ano como no início do século, são mais de cinco e chegam a durar um mês.” Assim começa o artigo da Revista do Expresso, baseado em estudos prospectivos.*
As praias e as zonas ribeirinhas encurtaram. A temperatura global aumentou 1,5 C e as emissões de dióxido de carbono continuaram a subir até 2045. As temperaturas máximas começam a chegar aos limites humanos de resposta fisiológica. Os trabalhadores agrícolas, varredores de ruas ou operários da construção civil já não conseguem trabalhar ao sol em determinados períodos do ano e foram criadas regras para os proteger, como o governo espanhol tinha feito em 2023, ao proibir o trabalho ao ar livre em dias de temperaturas extremas.
Somos agora um pouco menos de 10 milhões. Mas se o país tivesse fechado as portas à imigração seríamos menos de 9 milhões, o que, segundo os especialistas, poria em causa o funcionamento da economia. Muitos imigrantes foram abandonando as suas terras para fugir aos problemas criados pelo crescimento acelerado da população. Países como Níger, República Democrática do Congo, Mali, Somália, República Centro-Africana, Chade e Angola, duplicaram o número de habitantes em 30 anos. Além disso, as alterações climáticas tornaram muitos lugares inabitáveis. As pessoas vão ter de sair dessas zonas, senão morrem.
A boa notícia é que algumas das pessoas que tinham mais de 70 anos em 2023 podem ver como é o país em 2050 porque temos mais de 10 mil portugueses com idades acima dos 100 anos: mais mulheres – quase 9 mil – do que homens.
Já em 2022, a Direcção Geral de Saúde alertava para o risco de aparecerem doenças associadas ao aquecimento global, como a febre amarela, infecção por vírus Zika, Dengue ou Malária, para além do risco esperado da prevalência de doenças crónicas. Apontava ainda para o risco das infecções virais com potencial pandémico, para a mortalidade associada ao calor e frio extremos, a resistência aos antibióticos, e as emergências em saúde pública. Foi útil que a Organização Mundial de Saúde tivesse criado em 2023 um grupo de trabalho para preparar a resposta à crise de saúde seguinte, quer fosse uma pandemia, uma crise ligada ao clima ou uma quebra da cadeia de fornecimento de alimentos.
Os insectos e as algas ganharam mais espaço na alimentação nas últimas décadas, tal como a FAO recomendava, incorporados como ingredientes em alimentos processados e rações para animais.
Nas marmitas de almoço para o trabalho levamos mais alimentos das hortas que existem nos telhados dos edifícios, em terraços, varandas e cozinhas. Também desperdiçamos menos porque Portugal foi obrigado pela Comissão Europeia a reduzir o desperdício alimentar per capita na restauração e em casa, em 30% até 2030.
Agora, nos campos agrícolas, por década, temos mais dois ou três anos de seca severa do que tínhamos no passado e contam-se entre 20 e 45 dias de risco extremo de incêndio todos os anos.
As cidades tornaram-se mais verdes. Os carros são eléctricos e mais partilhados. Os transportes públicos melhoraram e andamos mais de comboio. Já em 2023, em Berlim, estava a nascer uma cidade dos dias de hoje: sem carros voadores nem arranha-céus, com habitação acessível, ruas quase sem carros, espaços verdes, biodiversidade e um uso eficiente de água e energia. Dentro das nossas casas é praticamente tudo eléctrico e quase 100% com origem renovável.
Quanto à economia portuguesa, as nossas empresas tornaram-se mais digitais porque foi esse o rumo do mundo. Os custos dos equipamentos e da computação foram diminuindo, e houve avanços na neurotecnologia, realidade virtual e nanotecnologia, além de muitas aplicações da inteligência artificial.
Continuamos também a explorar o Espaço. Por exemplo, a NASA e a Agência Espacial Europeia conseguiram levar a espécie humana a Marte, embora a tão falada “colonização” do planeta seja ainda um sonho longínquo. Confirma-se a existência de vida microbiana simples em Marte e Enceladus, uma das luas de Saturno, através do estudo de amostras do solo marciano, trazidas para a Terra.
Somos 9,7 mil milhões, a população mundial deverá crescer até aos 10,4 mil milhões em 2086 e só então começará a diminuir, segundo as Nações Unidas.
O artigo lembra que o retrato de Portugal em 2050 dependerá, em parte, do que os portugueses fizerem do país nas próximas duas décadas e meia.
À guisa de comentário final, 26 anos são um período largo de tempo em que pode acontecer algo de totalmente inesperado que mude as regras do “jogo”. Mas se “é difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro” – frase geralmente atribuída ao famoso físico dinamarquês Niels Bohr, um dos pais da mecânica quântica - é de elementar prudência levar a sério os avisos e recomendações fundados no conhecimento de que dispomos em 2023, o qual permite traçar um 2050 virtual.
*Projecções de População Residente 2018-2080”, INE 2020; “Ageing Report 2021”, Comissão Europeia 2021; “Eurostat Population Projections 2022-2100”, artigos científicos do “Roteiro Nacional para a Adaptação 2100”, APA/FCUL 2022 e 2023; “Migrações e Sustentabilidade Demográfica”, FFMS, 2017; “Plano Nacional de Saúde 2021-2030 – Projecções e Prognóstico”, DGS, 2022; “Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050”, 2019; “Skills Forecast Trends and Challenges to 2030”, OCDE, 2018; “The Future of Food and Agriculture-Alternative Pathways to 2050”, FAO 2018; “Relatório do Estado do Ambiente-Cenários Macroeconómicos para Portugal 2050”, APA, 2022.
1 comentário:
Em 2018, dois meses depois do "show" Obama no Coliseu, em Julho, realizou-se na Universidade do Porto um evento científico denominado Porto Climate Conference, que, apesar de ameaças físicas e boicote da imprensa, decorreu na Faculdade de Letras. Dezenas de cientistas de todo o mundo, desfiaram as suas opiniões nessa qualidade - a de cientistas qualificados. Já esquecido, certamente, de tudo o que está ligado à falsidade das "alterações climáticas" de origem humana - nomeadamente o famoso "Climategate" -, o autor deste artigo toma o Expresso como base para um conjunto de especulações baseadas no medo do futuro do nosso planeta, o que distrai dos seus verdadeiros problemas, isto é, do modo de produção capitalista que impera por quase todo ele. Enfim...
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