Mário Martins
Ortega Y Gasset
Assim como, na visão de Marx, os homens estabelecem relações independentes da sua vontade na produção sócio-económica da sua existência, também agora, contra a nossa vontade, fomos obrigados a parar devido à ameaça do novo coronavírus.
Esta condição humana, de a nossa vontade, individual e colectiva, estar sujeita a forças ou circunstâncias naturais que não dominamos é, como sabemos, de todos os tempos, embora soe mais absurda numa época, como a nossa, de euforia tecnológica.
Aliás, se examinarmos o nosso percurso de vida individual, facilmente reconheceremos, em muitas situações, o factor preponderante do acaso e a correspondente menorização do livre-arbítrio.
Este, o livre-arbítrio, é uma capacidade de escolha que, todavia, nunca é livre da mudança contínua das circunstâncias exteriores nem da variabilidade dos humores do corpo de cada indivíduo, constituindo, de qualquer modo, uma característica humana tão natural como qualquer outra. A ideia, contra os factos e sem prova, mas sempre de algum modo presente, de que a natureza é uma coisa e nós outra, além de não ter fundamento é perigosa.
Na frase lapidar do filósofo espanhol vemos “uma concepção do homem como um eu-circunstância, indissociável do seu meio. Dito de outro modo, o eu é distinto da realidade à sua volta, mas inseparável desta.” (Wikipédia). Daqui não se segue que o homem é um mero joguete do meio. Ambos, homem e meio, se influenciam mutuamente no concerto misterioso da natureza.
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