Manuel Joaquim
No mesmo mês de Julho de 1920, em Ílhavo, Aveiro, nasceram dois grandes nomes da sociedade portuguesa que marcaram o seu tempo. Em 7 de Julho nasceu Mário Sacramento, médico, grande escritor e cidadão de corpo inteiro. O seu nome marca ruas e escolas na zona de Aveiro. Em 31 de Julho, faz cem anos, nasceu Manuel Nunes da Fonseca, conhecido por Mário Castrim, escritor, jornalista e cidadão de corpo inteiro. Interveio sempre com a sua palavra, os seus escritos e a sua arte poética até ao fim da vida.
Conheci Mário Castrim, eu era ainda muito jovem, quando me chamaram a atenção para o seu comentário diário sobre os programas da televisão, “canal da crítica”, publicado no jornal Diário de Lisboa. Os seus comentários sobre a “Televisão do Valadão” levavam ao acender da lucidez e ao despertar da capacidade crítica para o que nos rodeava para além da televisão.
Depois do jantar, diariamente, lá ia eu ao café Pereira ou ao Satélite comprar o jornal e conversar com os amigos que lá se encontravam. A leitura das críticas do Mário Castrim era das primeiras coisas a fazer, pois, muitas das vezes eram o mote para a conversa.
O Diário de Lisboa tinha um suplemento Juvenil que publicava textos de jovens. Alguns amigos viram publicados artigos e poesias de sua autoria. Alguns poetas de hoje nasceram nas páginas do Juvenil do Diário de Lisboa.
Vale a pena recordar Mário Castrim e conhecer a sua obra.
Texto que integra a Exposição dos 25 anos do 25 de Abril, in O Militante
“A emoção de haver povo.
Chegar à beira da falésia
e ver o mar, o mar, o mar de mar a mar
até ao fim dos olhos
as ondas projectadas
com a espuma
que durante anos e anos
sonhámos para a festa de algum dia
o dia
dia a dia adiado
o dia
dia a dia resguardado
no punho que fechávamos no bolso
o punho que trazia o diamante
o punho
que nem o fogo conseguiu abrir.
A emoção de haver povo
Quase nos cega a luz
do diamante
que veio
de mão em mão
cruzando o universo.
Vejam
como ele brilha
no punho fechado
deste verso “
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