Manuel Joaquim
Vulcão dos Capelinhos |
Notícias do princípio deste mês de Julho anunciaram que a NASA ia usar o vulcão dos Capelinhos para preparar a exploração de Marte. Cientistas da NASA, do Reino Unido e de Portugal estavam a organizar uma expedição para estudar o vulcão que nasceu no mar em condições muito semelhantes às que se terão verificado em Marte “há mil milhões de anos”. Segundo as notícias foi escolhido por ser um “laboratório especial só comparável a mais dois locais na Terra e perceber como evoluiu nos últimos milhões de anos.”
Estas notícias fizeram-me voltar aos Açores, em pensamento, por ter visitado o vulcão em Maio passado, e ter ficado profundamente admirado com a paisagem com que deparei.
Recordei-me de quando era miúdo ter visto notícias e fotografias no Primeiro de Janeiro sobre o nascimento do vulcão. Recordei-me também de uma conferência a que assisti na Casa dos Açores sobre o vulcão e das suas consequências, mas estar no próprio vulcão, apreciar o local, tocar nas pedras e areias vulcânicas, visitar o centro interpretativo construído no local, é uma sensação completamente diferente. Estamos noutro mundo, provavelmente uma imagem de Marte e, se calhar, da Lua.
O vulcão dos Capelinhos, situado na ilha do Faial, esteve adormecido desde o ano de 1673 até ao dia 27 de Setembro de 1957. Começou com o fervilhar da água do mar mas passados três dias, cinzas atingiam a altura de 1000 metros e nuvens de vapor de água subiam a mais de 4000 metros. Em Outubro desse ano formou-se um cone vulcânico de areia e escórias com cerca de 800 metros de diâmetro e 1000 metros de altura e uma nuvem de vapor de água que subia a mais de 4000 metros. Ocorreram diversas erupções, sempre explosivas. As casas de habitação tiveram de ser abandonadas, a actividade económica foi destruída, famílias inteiras foram deslocadas. Uma iniciativa legislativa de dois senadores dos Estados Unidos, aprovada em 2 de Setembro de 1958, possibilitou a atribuição de vistos extraordinários para imigração de pessoas afectadas pelo vulcão permitindo a emigração de milhares de pessoas para além das quotas regulares da imigração. Entre 1960 e 1991 as ilhas dos Açores perderam mais de 27% da sua população. Em resultado disso, a comunidade açoriana nos EUA é grande.
A ilha do Faial é palco de intensa actividade sísmica. O terramoto de 9 de Julho de 1998 causou vítimas mortais e muitos feridos e provocou o desalojamento de 1500 pessoas. O vulcão dos Capelinhos e outros vulcões existentes no arquipélago estão adormecidos. A qualquer momento podem acontecer novas catástrofes.
As medidas de resposta para as diversas vertentes - infraestruturas, economia, saúde, social - são muito frágeis como se verificou aquando do terramoto. Estudos para o aproveitamento de fontes de energia praticamente não existem, apesar de a região dispor de cientistas e técnicos competentes e conhecedores.
Victor Hugo Forjaz, vulcanólogo, Professor Doutor, tinha 18 anos, quando o vulcão dos Capelinhos nasceu. O entusiasmo do acontecimento levou-o a optar pela carreira de vulcanólogo. Publicou diversas obras de grande valor sobre a sua especialidade.
Ao fazer há pouco tempo 70 anos despejaram-no do seu lugar de trabalho juntamente com a sua biblioteca e documentação. É o reconhecimento típico de algumas entidades a personalidades de grande mérito. E assim vai este país.
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