Mário Faria
Nas minhas incursões na zona de influência do Lidle, há bem mais de um ano fui testemunha de um insólito acontecimento. Um homem, entre os sessenta anos, passeava uma bicicleta no passeio de costas para o movimento dos carros. Ainda a uma certa distância do Coppi (assim o batizei), apercebi-me que gritava para os automóveis com gestos e palavras muito pouco amigáveis. Na dúvida, mudei de passeio para evitar encontros imediatos de 1º, 2º ou terceiro grau. O tipo topou e parou do outro lado da rua para me brindar com um vasto leque de cumprimentos ameaçadores. Cheguei são e salvo a casa. Cruzei-me com o Coppi mais uma dúzia de vezes. O registo era cada vez mais agressivo. Entretanto, desapareceu e não deixou saudades. Há dois meses e pico, apareceu profundamente mudado. Tinha deixado a bicicleta que substituiu por um carrinho de supermercado. Caminhava mais confiante, sereno e com algum orgulho. Parecia satisfeito com a responsabilidade da sua função. E foi assim que se passou durante semanas. Foi sol de pouca dura: desta vez voltou de bicicleta e com um carrinho de supermercado acoplado. Exibia sinais de intensa degradação; menos agressivo e mais estranho dava sinais de desorientação. O Coppi é um mistério: um homem que vi sempre sozinho de mal com a vida e o mundo. Muito provavelmente vítima de um qualquer fantasma que o habita e nada tem a ver com o Brexit.
O Brexit tem ocupado uma boa parte da agenda informativa. Não entendo muito bem porque é tão complicado sair da UE. Os ingleses ainda vivem sob os vestígios do Império. Sentem-se sem a importância do antanho e esperam com este golpe ressuscitar os dias gloriosos da Commonwealth. Ao mesmo tempo, esperam ganhar oportunidades que os USA facilitarão. O processo de saída parece não ter fim. O Reino Unido ruge mas não deita fogo. Está no limbo e não encontra saída. Sua Alteza está atenta e serena. Não é nada com ela. Pela nossa parte, estamos descansados: basta mostrar o Tratado. Ainda vamos ser o anjo da guarda da Europa. O Centeno é homem para isso.
Sabia-se que Centeno seria o homem escolhido para Ministro das Finanças se o Costa formasse governo. Não sei como se selecionam os candidatos para preencher os diferentes cargos no Governo. Admito que haja procedimentos semelhantes aos que são seguidos no privado, nomeadamente quando se trata de empresas que seguem os bons costumes no recrutamento. Segui e conheci os passos e a exigência no IKEA no momento da selecção de candidatos. O processo é longo, diversificado e muito exigente. É normal que na vida pública seja diferente porque os membros do partido serão quase sempre prioritários. Só que o actual governo resolveu dar um passo atrás e permitiu encher o (nova) governo com muitos amigos e demasiados familiares. Não será por isso que o gato vai às filhoses, mas ao Governo não basta ser sério tem de parecê-lo. Que tiro no pé, Costa!
O gato foi às filhoses e Rui Pinto foi preso preventivamente. Há quem o condene e reclame um castigado exemplar e há quem o absolva e reclame para o Rui o estatuto de denunciante. A privacidade é um direito que não pode ser desvalorizado e quem a viola comete um crime. Sou austero na sua defesa. Mas fico dividido quando o que está em jogo é informação qualificada e de interesse público. Como sair deste nó górdio? Vai ser complicado dados os interesses em jogo e no futebol o escrutínio é um bico de obra. A toupeira que o diga!
Nota: Coppi foi um ciclista italiano de eleição.
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