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01/09/18

NOSSA SENHORA DA SAÚDE

Mário Faria





A manhã ia fresquinha e pouco respeitosa das previsões anunciadas. Dei a corda aos sapatos e desaguei junto da capela da Nossa Senhora da Saúde quando decorria a missa campal. Acabou pouco depois e a imagem da nossa padroeira voltou para a sua casa. Notei no seu rosto um ar atormentado. Provavelmente inquieta com o nosso SNS. De tarde, havia a procissão que fiz a questão de acompanhar. Muita gente e muitos andores com imagens de santos e santas e, obviamente, da Nossa Senhora da Saúde. Uma banda a fechar, direcionada para a música de perfil religioso e uma outra no comando para definir o ritmo da marcha. O ambiente era respeitoso e assumido com simplicidade. Uma ligeira fricção ocorreu quando um homem se virou para um acompanhante e disse: “vai trabalhar para as obras, ó malandro” e continuou a resmungar até se perder de vista. O calor, o som ritmado dos tambores, a caminhada sincopada e a coreografia que os diferentes actores compunham, remeteram-me de uma forma instintiva, automática, para uma cena de um dos filmes da saga O Padrinho.

Como não poderia deixar de ser todas as noites houve muita animação com a melhor música pimba. Dançava-se ao som de canções populares. As bandas de música e o coro de Paranhos também actuaram. Havia comes-e-bebes para todos os gostos, mas as sandes de chouriça, quentinhas, quentinhas arrasaram. Na despedida dei comigo a pensar se a Nossa Senhora da Saúde não andaria preocupada com os maus tratos que o nosso jardim de Arca de Água sofre e como a terra poeirenta vai tomando conta do verde que era dominante.

A greve dos enfermeiros, obrigou ao adiamento de mil cirurgias nos hospitais de Santa Maria e São José, em Lisboa, e no São João, no Porto, conforme disse à Lusa um dirigente da Federação Nacional dos Sindicatos de Enfermeiros (FENSE). Nesses cinco dias [de greve] 1000 cirurgias vão ser adiadas" nestes três hospitais, porque "os blocos cirúrgicos normais estão parados", adiantou José Correia Azevedo. Tive a oportunidade de ver e ouvir na TV este dirigente sindical a anunciar o adiamento dessas cirurgias como se fosse uma grande vitória pessoal (não escondia o seu contentamento) absolutamente alheio aos danos que poderá ter provocado aos doentes. A greve é uma arma, mas como todas as armas não deve magoar mais do que é preciso: na saúde por maioria de razão.

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