Manuel Joaquim
(www.flickriver.com) |
Depois de concluída a discussão pública sobre o “Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território", no passado mês de Julho, o Governo realizou uma reunião extraordinária do seu Conselho de Ministros, em Pampilhosa da Serra, para aprovar medidas para o seu “Programa de Valorização do Interior “e para os seus “Programas Regionais de Ordenamento Florestal”. Programas cujos nomes impressionam.
Não sei se a decisão de realizar a reunião em Pampilhosa da Serra teve como elemento inspirador as presidências abertas de Mário Soares ou de Santana Lopes ou se foi a oportunidade dos incêndios que levou os ministros a aproveitarem a ocasião para aparecerem publicamente com as conclusões de trabalhos.
Aproveitando a oportunidade da publicidade governamental para o início daqueles trabalhos, um grupo de “amigos do peito”, autointitulado “Movimento para o interior” apresentou publicamente em Maio passado um trabalho com propostas “radicais” para levar vinte cinco serviços públicos para fora de Lisboa, designadamente para a Guarda, Castelo Branco e Beja, além de outras propostas. Teve honras de comunicação nas TVs, rádios e jornais e até um artigo de fundo, nomeadamente de um novel director de um jornal dito de referência, propriedade (?) de uma menina que já foi banqueira (?) e agora vai ser a principal (?) administradora de um grupo económico muito importante.
O relator do grupo, cumprindo as tarefas que lhe foram atribuídas, para justificar os lugares que já desempenhou e que vai desempenhando principescamente, lá deu a cara por tal documento. O que teve o trabalho sobre impostos, fez copy paste de textos de quando foi ministro e dirigente de um grupo de borboletas economistas, que voavam à sua volta, que na altura tiveram coimo tarefa iniciar a destruição do sector público financeiro. Outro é o presidente dos autarcas do seu partido e presidente da Câmara, que certamente está gulosamente à espera de serviços transferidos de Lisboa. Outro tratou do problema da educação. Há ainda um outro, que estudou medidas para a ocupação do território do Estado. Não sei se propõe a venda do território do Estado a nacionais e/ou estrangeiros, ou se pretende aumentar a área de pastagens para aumentar a produção de leite para a sua queijaria ou para estaleiros para obras em parcerias públicas e privadas, provavelmente para participar nos resultados financeiros do empreiteiro.
Sobre o interior do país, como se o país tivesse interior, quando tem cerca de duzentos quilómetros desde a fronteira até ao mar, com rigor, nada se diz. Os incêndios, o papel dos bombeiros, a desertificação, a floresta, os eucaliptos, é que são objecto de notícias. As causas que estão na origem de tantos problemas são ignoradas.
Quando alguém questionava e alertava para as consequências da adesão de Portugal à CEE, designadamente sobre a PAC – Política Agrícola Comum, para Trás-os-Montes e Alto Douro, era imediatamente acusado de catastrofista. Os produtores eram aliciados a abandonarem as suas produções, para o que recebiam bons dinheiros para não produzirem e não trabalharem. Os excedentes produzidos na Europa acabaram por fazer o resto. O dinheiro gasto em novas vias serviu para os camiões trazerem esses excedentes para a distribuição.
As aldeias em Trás-os-Montes estão abandonadas há muitos anos. Os jovens continuam a emigrar procurando emprego e sustento. O encerramento de escolas, de serviços públicos, a falta de trabalho compensador são causas que continuam a agravar a situação. O Bispo de Bragança e Miranda acabou de fazer um apelo para a necessidade de estancar a emigração. Alfaião, uma aldeia próxima de Bragança, hoje não tem escola. As pessoas lembram-se de ter existido quatro classes na escola.
No verão, quem circula nas aldeias, são os emigrantes e familiares. Acabam as férias, as ruas ficam desertas, os negócios acabam. Os que retornaram investiram em habitações e estabelecimentos de restauração e hospedagem, aproveitando os produtos dos seus terrenos. Mas tendencialmente em desfalecimento.
Em Trás-os-Montes a terra ainda está trabalhada. A produção de castanha é ouro. O azeite alarga a sua produção. O vinho também. Os jovens são aliciados para a produção de carne. Mas quem se dedica a estas actividades tem de ter propriedades, capitais e rendimentos compensadores. Os intermediários determinam os preços e o escoamento dos produtos.
Ainda Não se vislumbram eucaliptos e outra florestação que alimentam as celuloses como se vê cada vez mais noutras zonas do país. Ouvimos nas reportagens sobre os incêndios em Monchique que arderam cerca de trinta mil hectares de floresta e mato onde o eucalipto tinha uma presença muito significativa. Sabemos que no início do século XX ainda não existiam eucaliptos naquela zona. Raúl Proença, na sua obra “Portugal – A Terra e o Homem” descreve o arvoredo que existia na serra do Algarve:”… sobreiros, azinheiras, medronheiros, os castanheiros e os carvalhos…”
O eucalipto é uma árvore relativamente recente na Europa. Gustave Flaubert, na sua obra “Bouvard e Pécuchet”, 1881, refere que aqueles dois “artistas” tentaram melhorar a sua propriedade: “…se as árvores mais raras prosperam nas hortas da capital, também deviam resultar em Chavignoles – e Pécuchet arranjou lilases das Índias, a rosa da China e o eucalipto, então nos primórdios da sua reputação. Todas as experiências falharam.”
Aqui, em Portugal, se muitos tiveram prejuízos com os eucaliptos, outros tiveram muitos lucros, até com os incêndios dos mesmos. Os suecos, que dominavam a pasta do papel, em tempo, passaram a pasta para outro(s), agora outras. E são apontadas como sendo detentoras de uma das maiores fortunas de Portugal, alimentada e desenvolvida já no “antigamente”.
Voltando a Trás-os-Montes. De vez em quando são publicados livros que são estudos sobre os Judeus. Praticamente não existem referências a essas publicações. Em 2017 realizou-se em Bragança, durante quatro dias, um Congresso Internacional sobre “Terras de Sefarad”, onde foram apresentados trabalhos muito importantes e esclarecedores sobre o papel dos judeus em Trás-os-Montes. Paulo Mendes Pinto, professor da Faculdade de Letras de Lisboa, onde existe a Cátedra dos Estudos Sefarditas, coordenador do Congresso, referiu que “No caso de Bragança, há 500 anos toda a zona de Trás-os-Montes não era em termos de desertificação, nem de economia o que nós hoje temos como estereótipo. Existiam aqui numerosos empreendedores tinha lugar aqui inovação, existiam centros culturais”.
Vítimas dos senhores poderosos e de toda uma máquina de destruição humana criada pela Igreja católica, as famílias judaicas foram sistematicamente destruídas, pela perseguição, pela tortura e pela morte. Através do medo, foi criada uma rede de denunciantes, de bufos, que não respeitava ninguém, nem os próprios familiares. Bastava que alguém vestisse ao sábado uma camisa lavada, que cozinhasse à sexta-feira, que dissesse que a chegada do Messias estava para breve, que fosse acusada de fazer comentários críticos sobre alguém ou sobre religião para ser denunciada, presa, julgada e condenada. Todos os seus bens eram perdidos. As torturas, as condenações, as galeras, a deportação, o uso do sambenito, a morte de crianças pela destruição dos seus corpos, as mortes na fogueira, tudo feito em nome da fé católica. Em Abril de 1506, em Lisboa, deu-se um massacre, onde mais de quatro mil pessoas, homens, mulheres e crianças foram torturadas e queimadas vivas junto à igreja de S. Domingos. A matança durou três dias, instigada pelos frades dominicanos, acusando os judeus de todos os males, desde a seca, à peste e de tudo o mais. Os métodos dos nazis contra os judeus no decurso da 2ª guerra mundial, não foram inventados por eles. A inquisição da Igreja católica usou-os dezenas de milhares de vezes. Na Torre do Tombo existem milhares de processos dos tribunais da Inquisição.
“Judeus em Trás-os-Montes – A Rua da Costanilha”, de António Júlio Andrade e de Maria Fernanda Guimarães, Editora Âncora, e “Os Judeus – no noroeste da Península Ibérica”, de João Domingos Gomes Sanches, da mesma editora, são dois livros que revelam as vicissitudes de muitas famílias judaicas no tempo da inquisição. A destruição sistemática das estruturas económicas, sociais e culturais na região ainda hoje se faz sentir. Actualmente, as comunidades judaicas ainda não se assumem como tal. Famílias guardam, quase secretamente, pertences religiosos herdados de antepassados e que usam em determinadas cerimónias. A diáspora mantém-se, sobretudo, através da emigração.
Alexandre Herculano, Oliveira Martins, António José Saraiva e outros, estudaram e escreveram sobre o tema, pouco conhecido da generalidade das pessoas e que, em certos círculos, é vedado abordar.
1 comentário:
Bem bolado, Manel! Esses livros ainda existe ou já foram queimados'~
Quem em tempos criticou a adesão à CEE foi um senhor "muito estúpido" e om palas nos olhos - o que comia meninos ao pequeno almoço e matavA velhinhos com injeções atrás das orelhas... Chama-se ABC, tinha razão mas já ninguém parece querer ouvir falar dele.
Falemos dos nossos "parentes" judeus... e das judiarias que lhes fizeram.Abraço
Enviar um comentário