Mário Martins
Depois do simbolismo do Natal e da passagem do ano (outras culturas comemoram outros símbolos), tão necessário como o ar que respiramos, segue a rotina previsível do futuro. Na minha cidade, continuarão os caminhos, os sítios, e pessoas a viverem no lado errado das casas, dir-me-ão que não é só cá e que uma promessa, ou pior, um acto político de acabar com isso será pura demagogia, afinal de contas miseráveis houve sempre e uma pirâmide, para o ser, tem que ter uma base, não é? deve ser, com certeza, por causa do risco de lhes chamarmos demagogos que os políticos viram, como eu, a cara para o lado, ocupando o seu precioso tempo com a televisão e a distribuição dos impostos por coisas mais elevadas; se eles são pessoas eleitas e pagas para gerirem o “condomínio" segundo os princípios do estado de direito, da justiça social e da protecção especial aos mais pobres, e eu apenas um mero eleitor que procuram seduzir para votar neste ou naquele, isso pelos vistos não faz qualquer diferença, todos temos o mesmo direito de virar a cara para o lado, até podemos ver, nesse engano que é viver no lado de fora das casas, uma afirmação de liberdade individual, de renúncia, um estilo de vida alternativo que a sociedade não tem o direito de pôr em causa. Apesar de, como dizia ironicamente um cientista, “ser muito difícil fazer previsões, sobretudo quando de trata do futuro”, será mais seguro prever uma viagem humana a Marte nos próximos 30 anos, um feito épico, corra ou não corra bem, que emocionará a humanidade e marcará para a posteridade o século XXI, do que uma grande manifestação de indignados com a existência de “pessoas-lixo”. Vão, pois, para dentro, vistam, como eu, um casaco de pele cínica, ouçam uma Abertura de Ludwig van, pode ser a Coriolano, e dêem-se por felizes.
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