António Mesquita
"Speer chega à conclusão de que o eixo absoluto e inabalável da existência de Hitler era o ódio pelos judeus. A política e os planos de guerra de Hitler eram, na íntegra, 'mera camuflagem para este verdadeiro factor de motivação.' (...) Speer chega à conclusão de que para Hitler este extermínio era mais importante do que a vitória ou a sobrevivência da nação alemã."
(George Steiner)
Isto, de certa maneira, pode comprovar-se, como já alguns historiadores observaram, pelo facto desse objectivo secundário para a maioria da nação, (porque é de esperar que a sobrevivência fosse sempre o primeiro desígnio) ter, a partir de certa altura, comprometido o próprio sucesso militar. A não ser que se admita a presença de um 'instinto de morte' no povo alemão...dando razão a algumas teses freudianas. Contudo, não é de excluir que o próprio líder fosse, no fundo, movido por um tal instinto.
O que tornou possível a Hitler iludir as defesas naturais contra esse programa de suicídio colectivo terá sido, por um lado, que a sua retórica cavalgava um anti-semitismo popular de profundas raízes históricas na Alemanha, e, por outro, a colusão entre um 'histerismo' individual com uma saída para a acção e um despero colectivo que não via futuro possível.
Já se disse que o êxito, até certo ponto, desta anomalia histórica em que um indivíduo foi capaz de concentrar em si tanto poder, poder que não provinha de um verdadeiro consentimento (e não só pelo contrabando suicida que o regime nazi escondia), mas de uma sedução 'diabólica', só foi possível graças ao 'aperfeiçoamento' do estado moderno, à sua capacidade de controlo do povo 'soberano', em estado de completa alienação e, por, paradoxal que pareça, a algumas virtudes do povo germânico.
É muito mais a nossa força que os poderes e as circunstâncias conseguem virar contra nós do que a nossa própria fraqueza.
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