"O sistema assentava na 'distribuição equitativa dos favores constitucionais' pelo rei. Que a 'distribuição' funcionou, pode deduzir-se do facto de, entre 1860 e 1890, só 3 das 17 eleições terem sido organizadas por governos no poder havia mais de um ano, e só um Governo ter podido presidir a duas eleições seguidas. As eleições foram, em geral, referendos a governos novos. Mas segundo D. Pedro V, sem a intervenção do rei teria sido 'uma ditadura permanente', porque das eleições, ao contrário de Inglaterra, nunca resultaria uma rotação no poder. O rei, em Portugal, era o 'guardião da liberdade'."
"História de Portugal" (coordenada por Rui Ramos)
O rotativismo, triunfante na Inglaterra, não podia ser assegurado pelas eleições. O 'povo' caía sempre no mesmo. Estava fundamentada a tese 'anti-democrática' de Salazar. O poder, ou as classes dirigentes, tampouco podiam encenar uma oposição minimamente credível. Só o líder, acima das facções dominantes, estava à altura do 'nobre desígnio' de representar o povo, contra ele mesmo, no imediato, mas com ele num futuro mais ou menos radioso. A 'Revolução Nacional' não tem este nome por acaso, e António Ferro estudou Eisenstein, o genial propagandista e cineasta.
Hoje, finalmente, o sistema do poder alterna entre os dois maiores partidos, mas com a mórbida tendência a voltar ao sistema de um só partido ou de uma só coligação, por causa do fundamentalismo de esquerda, que mais do que doença infantil parece uma doença senil.
Qual será o líder que vai retomar a 'visão' de D. Pedro V, o 'Bem-Amado', e substituir-se a um rotativismo bloqueado?
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