Mário Martins
“Que princípio é esse segundo o qual, quando não vemos nada senão melhoramento atrás de nós, se espera que não vejamos nada além de deterioração à nossa frente?”
Thomas Babington Macaulay
Review of Southey’s Colloquies on Society
O livro de Matt Ridley, que dá o título a este texto, faz, com uma tese central e abundantes dados, o contraditório do princípio acima referido, citado na obra. Para o autor, é razoável esperar um contínuo melhoramento no futuro, precisamente por ter havido um contínuo melhoramento no passado.
A tese é a de que a troca de coisas e ideias entre as pessoas torna a cultura cumulativa e a inteligência colectiva. Para o autor, “a troca está para a evolução cultural como a procriação está para a evolução biológica”; “quanto mais os seres humanos se diversificavam como consumidores e se especializavam como produtores, e quanto mais trocavam, melhor ficavam, ficam e ficarão”, pelo que é razoável “prever uma contínua expansão da cataláxia (termo cunhado por Hayek para designar a ordem espontânea criada pela troca e pela especialização)”.
Se não se pode negar a incessante melhoria das condições de vida desde a pré-história humana e o papel central da troca como ferramenta do progresso, o que explicará, então, o pessimismo dominante ou o medo do futuro?
De várias razões possíveis, a menor não será, certamente, a da escala do tempo: a medição do progresso é independente do tempo de cada geração humana; a vida de uma geração pode coincidir com um tempo de estagnação ou mesmo de retrocesso, ou então, como acontece hoje em Portugal, experimentar um tempo de grandes dificuldades, depois de três ou quatro décadas de ascensão social.
Outra razão para não sermos optimistas terá a ver com a nossa natureza ou com a natureza do mundo, de que somos parte. Não faltam motivos para termos medo de nós e o mundo nem sempre é um lugar amigável. O próprio autor reconhece que a natureza humana não mudará: “Os mesmos dramas de agressão e vício, de paixão e doutrinação, de encanto e prejuízo continuarão, mas num mundo cada vez mais próspero (devido ao comércio e à inovação)”. Todos, de algum modo, compreendemos ou intuímos que, face aos meios disponíveis, a pobreza e a miséria são um contra-senso; fosse a nossa natureza mais benigna, e decerto que não pesariam na consciência da humanidade.
Resta-nos, enfim, alguns bons sentimentos inter-pessoais e as doutrinas de salvação, nos planos político e religioso, para sublimar o mal do mundo.
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