Manuel Joaquim
No passado dia 15 terminou uma exposição que esteve montada nas instalações da Alfândega do Porto evocando o centenário do nascimento de Álvaro Cunhal.
Tenho visitado muitos museus e exposições em Portugal e em vários países. Mas esta exposição foi, seguramente, uma das melhores, senão a melhor, que visitei. Fui um dos milhares de afortunados que tiveram a oportunidade de a visitar. Muitas pessoas oriundas de várias localidades, designadamente de Trás-os-Montes, deslocaram-se propositadamente à cidade do Porto, através de excursões organizadas para o efeito. Visitas organizadas por diversas escolas foram muitas. Personalidades da cidade, como o Presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e o Presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa fizeram questão de a visitar.
Álvaro Cunhal foi uma pessoa que dedicou a maior parte da sua vida à militância política em defesa de uma sociedade mais fraterna, mais justa, mais humana. Nas bermas desse caminho está um extraordinário trabalho intelectual e artístico, que a exposição muito bem documentou.
Um dos painéis da exposição reproduzia do livro “O Partido com Paredes de Vidro”, com a seguinte introdução:
“O Contributo de Álvaro Cunhal para a definição do ideal por que lutam os comunistas portugueses é-nos dado, de forma aliciante:
“O nosso ideal, dos comunistas portugueses, é a libertação dos trabalhadores
portugueses e do povo português de todas as formas de exploração e opressão.
É a liberdade de pensar, de escrever, de afirmar, de criar.
É o direito à verdade.
É colocar os principais meios de produção, não ao serviço do enriquecimento
de alguns poucos para a miséria de muitos mas ao serviço do nosso povo e da nossa pátria.
É erradicar a fome, a miséria e o desemprego.
É garantir a todos o bem-estar material e o acesso à instrução e à cultura.
É a expansão da ciência, da técnica e da arte.
É assegurar à mulher a efectiva igualdade de direitos e de condição social.
É assegurar à juventude o ensino, a cultura, o trabalho, o desporto, a saúde e a alegria.
É criar uma vida feliz para as crianças e anos tranquilos para os idosos.
É afirmar a independência nacional na defesa intransigente da integridade
territorial, da soberania, da segurança e da paz e no direito do povo português a decidir do seu destino.
É a construção em Portugal de uma sociedade socialista correspondendo
às particularidades nacionais e aos interesses, às necessidades, às aspirações
e à vontade do povo português – uma sociedade de liberdade e de abundância,
em que o Estado e a política estejam inteiramente ao serviço do bem e da felicidade do ser humano.
Tal sempre foi e continua a ser o horizonte na longa luta do nosso Partido.”
Álvaro Cunhal
In-O Partido com Paredes de Vidro”
Foram realizadas muitas iniciativas - exposições, debates, lançamento de livros, sessões de cinema - quer de âmbito local e nacional, quer de âmbito internacional, designadamente na Suíça, Alemanha, Bélgica, Brasil e em muitos outros Países.
Nas vésperas do Natal foi lançado um livro publicado pela Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto em homenagem a Álvaro Cunhal: ”Cunhal /Cem anos /100 palavras”, que ocorreu nas suas instalações. A apresentação foi efectuada por Rui Osório, padre, homem de letras e jornalista do Jornal de Notícias. Teve muitas pessoas presentes, algumas com textos incluídos no livro.
O livro tem uma capa muito bonita de autoria de Álvaro Siza Vieira e é composto por 99 textos de várias personalidades, mais uma carta de Álvaro Cunhal.
Álvaro Cunhal é uma personalidade ímpar na história de Portugal e na história mundial.
Numa altura em que o anticomunismo está na rua, desde o mais primário ao travestido de intelectual, o texto do livro que tem o título “Imoral”, de António Freitas de Sousa, dirigindo-se a Álvaro Cunhal, sem invocar o seu nome, termina assim:
“….acreditaste num homem impossível mesmo sabendo que era impossível e mesmo assim lhe dedicaste todos os dias da tua vida como se fosse possível esse homem impossível; que desenhavas como um pintor e escrevias como um escritor mas preferiste anular esse lado luminoso da tua mão para ajudares a abrir caminho a todos os pintores e a todos os escritores; que morreste como nasceste, necessário e branco; de ti, dizem alguns que és imoral. Perdoa-lhes, sabem lá eles o que dizem.”
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