Manuel Joaquim
José Estêvão |
Hoje, queria lembrar um discurso parlamentar que José Estêvão fez em 8 de Junho de 1839 sobre o Orçamento do Estado. Estavam em discussão projectos que se apresentavam ou como “salvadores”, ou que defendiam a “conveniência de emittir papeis sobre a décima”, ou da sua impossibilidade, ou da vantagem de se realizar um empréstimo ou dos seus inconvenientes.
Em determinada altura, José Estêvão perguntou: “Qual é a questão?” E respondeu, dizendo que “a questão… é a das nossas finanças, que não começou com esta legislatura, mas que já apareceu no Congresso Constituinte; é a questão que atormentou todas as camaras da Carta; é a questão de que estão dependentes todas as outras questões; a questão que não é dos partidos, mas dos portuguezes; a questão que já matou uma Constituição, e que ha de matar outra; a questão finalmente que há de esmagar todos os homens públicos, e perder para sempre este paiz, se a não quiserem vêr como ella é.”
José Estêvão fez uma profunda análise crítica à situação económica e política da época que não é muito diferente da que actualmente vivemos. É um período histórico muito rico que vem a culminar com a revolução republicana.
José Estêvão tem diversos discursos no parlamento, tais como sobre o contrato do tabaco, ou sobre a questão das Irmãs da Caridade, muito curiosos e de plena actualidade.
Mas acontecimentos que estão a ocorrer, tão avassaladores para a minha consciência de cidadão que defende a Paz Universal, que defende a construção de uma sociedade mais justa e mais harmoniosa, provocam-me uma forte angustia e desviam-me o pensamento.
Estamos a ser massacrados diariamente com notícias sobre a morte de umas centenas de pessoas com armas químicas para justificar uma intervenção militar num país soberano que se opõe aos interesses colonialistas e imperialistas dos Estados Unidos e de outros. Jornais, televisões e revistas defendem claramente essa intervenção, sem quererem aprofundar o que realmente se passou.
Mas sobre a morte de mais de cem mil pessoas na Síria, vítimas do terrorismo, nada se diz. Como também nada se diz sobre a morte de mais de 17.000 iranianos vítimas de terrorismo selectivo, executado por terroristas, cuja maior parte residem na Europa e nos EEUU. Será que vão ser noticiados tão profusamente os documentos secretos agora divulgados sobre o fornecimento de armas químicas pelos EEUU ao Iraque que foram utilizadas na guerra Irão-Iraque?
Hoje, sábado, aviões de guerra, partindo de uma das maiores bases militares da Turquia, que é utilizada pelos Estados Unidos, pela Inglaterra e pela própria Turquia, efectuaram voos de reconhecimento sobre território da Síria. O Parlamento Britânico reprovou uma intervenção militar na Síria, que era defendida pelo seu 1º ministro. Depois de derrotado veio declarar que compreende e apoia essa intervenção. A Nato decidiu não participar numa intervenção militar e a esmagadora maioria dos países têm-se manifestado contra. A França, pela voz do seu governo socialista (?) é acérrima defensora da intervenção militar, caninamente ao lado dos EEUU. É bom registar, para memória futura, que altos dirigentes do Partido Socialista Português - Maria Belém Roseira, Alberto Martins, Paulo Pisco (coordenador parlamentar para as relações internacionais), Basílio Horta, Pedro Silva Pereira, Maria Gabriela Canavilhas e Laurentino Dias – questionaram o governo português sobre a sua posição, manifestando que estão a favor de uma intervenção militar na Síria mesmo sem o respaldo de uma decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Somente hoje é que a direcção do PS veio corrigir a sua posição.
Obama, prémio Nobel da Paz, declarou hoje que já tomou a decisão. Tudo aponta que vai no caminho da guerra mas ainda não se sabe. O risco de um conflito de grandes proporções é enorme. Os povos amantes da Paz e o povo dos Estados Unidos que não quer mais guerras, não vão perdoar. Há um ditado popular que diz que quem com ferros mata com ferros morre. Quem iniciar a guerra não está livre dessa situação.
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