Mário Martins
http://versatis.deviantart.com/art/The-Invisible-Island-68041859 |
Um destes dias Eme sobressaltou o meu quotidiano disparando-me: “o mais importante é o que se vê ou o que não se vê?”, logo acrescentando, perante o meu olhar do tipo “o que é que esta quer? (desta vez Eme é uma personagem feminina)”, “sim, o mais importante é o material ou o imaterial?”. Apeteceu-me responder, prosaicamente, que a necessidade básica de comer não se pode satisfazer com ar e vento, mas Eme estava embalada e não dava mostras de esperar uma resposta; continuou, por isso, a disparar na minha direcção adivinhando, sabe-se lá como (esta Eme é perigosa…), a resposta que eu desistira de dar: “comer alimentos é uma necessidade básica, mas se faltar o apetite, como se satisfaz?”, “a procriação humana é física e visível mas podemos dizer o mesmo do impulso que a comanda?”, “gostamos ou não gostamos, mas o gosto é material?”, “segundo DamásioExisto, logo penso, o que quer dizer que não há pensamento sem cérebro, mas alguém viu alguma vez um pensamento?”, “os seres humanos são inteligentes e filhos da natureza, logo a natureza é absolutamente inteligente, mas quem conhece a forma física específica dessa inteligência suprema?”, “o que é fundamental na natureza ou no universo é o seu aspecto físico ou as suas leis?”.Com a mão a segurar o meu quotidiano tão abruptamente perturbado por Eme, dei por mim a condescender que Eme é assim e a gente que a ature, embora, lá no fundo, admitisse que as perguntas encerravam as respostas. Encolhi os ombros e fui à minha vida, enquanto a voz de Eme se sumia ao longe.
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