António Mesquita
Pierre-Joseph Proudhon |
"Para o capital, porém, não se trata simplesmente do emprego, mas da produção de mais-valia ao nível de produtividade exigido pela concorrência e constantemente acrescido, que (como Keynes bem viu) torna supérflua a força de trabalho numa progressão crescente. A conservação do emprego só é possível através da produção adicional de mais-valia, que pressupõe um stock de capital crescente e, consequentemente, também crescimento económico, incluindo um consumo de recursos em aumento permanente."
"Um capitalismo sem mais-valia?" (Robert Kurz)
O que se diz aqui é que a mais-valia se separa cada vez mais do trabalho 'abstracto' da teoria marxista, que nele fundamentava o tópico central da exploração capitalista.
Pois, como refere Keynes, as exigências crescentes da produtividade, impostas pela concorrência, não podem já basear-se no 'trabalho não-pago'. A revolução científica e tecnológica, em constante desenvolvimento, conduz directamente à redução dos postos de trabalho e à substituição dos assalariados por máquinas e 'robots'. A indústria automóvel nos EUA viu a sua população de trabalhadores ser substituída quase completamente pela automação, com consequências devastadoras na economia de grandes cidades, como Detroit.
O capitalismo parece, assim, condenado, por um lado, a impulsionar a tecnologia de substituição do trabalho, e por outro a eliminar massivamente os consumidores que esses trabalhadores e as suas famílias representavam. Esta via só deixa em aberto a possibilidade de criar novos mercados pela guerra ou pela criação de crises artificiais.
Se a teoria da mais-valia de Marx (inspirada em Proudhon) perdeu actualidade, sobretudo por causa da revolução tecnológica, curiosamente, a teoria de Proudhon ("a propriedade é um roubo") parece ganhar uma actualidade crescente.
Porque vemos que a dita revolução tecnológica é já tão fundamental para a sobrevivência económica, sendo, por outro lado, o produto da cultura e da educação, para além do génio individual, que não pode ser propriedade de ninguém. Nenhum cartelismo de interesses privados ou da Banca internacional tem o direito de se apropriar dela, condenando a grande maioria ao não-trabalho e ao não-consumo, isto é, em capitalismo, à não-existência. O desvio da revolução científica pela arma financeira é caracterizadamente um roubo.
Tal como na ideia marxista, encontramos aqui um problema ético e político que começa por ser incompatível com a democracia.
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