Como acontece com as palavras que, de tanto repetidas, já só encontram ouvidos surdos, a palavra capitalismo já não parecia mais do que um tique da esquerda, que se levava à conta da crença.
Pode ver-se na dificuldade de alguns partidos em renovarem as suas expressões o sintoma dum progressivo afastamento da política em direcção ao culto puro e simples, que preserva a unidade dos fieis mas, na verdade, abdica de “lançar as suas redes” para a sociedade em geral. Nesse caso, a realidade já não é precisa para nada.
Mas nas grandes crises, nem esse culto é imune aos acontecimentos e, para nossa surpresa, um dia reparamos que, por essas bandas, se começou a utilizar a linguagem comum (como não podia deixar de ser, a dos media).
O capitalismo que se tinha tornado uma coisa tão abstracta e trans-ideológica (com a entrada da China na sua esfera, mesmo que considerada como um recuo leninista, é um passo de gigante, com óptimos resultados, diga-se de passagem), passou a ser referido aqui e ali como “os mercados”.
Luís António Verney dizia que era prática corrente, no seu tempo e no seu país, recorrer abusivamente a perífrases e a epítetos, em vez de chamar as coisas pelo seu nome. O problema é que “os mercados” não é ainda o nome da coisa. É mais um epíteto.
Os Gregos, pelo seu lado, tinham uma palavra muito mais eloquente: pleonexia, a insaciável vontade por mais e mais, e José Afonso era ainda mais expressivo, com os seus vampiros.
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