Manuel Joaquim
Tropas de Junot em Portugal, segundo gravura da época |
Numa visita efectuada este mês à aldeia de Brufe, situada na Serra Amarela do Parque Nacional Peneda Gerês, onde almoçámos no restaurante O Abocanhado, cuja arquitectura é da autoria dos arquitectos portugueses António Portugal e Manuel Maria Reis, premiada internacionalmente com medalha de prata na 3ª edição da Bienal Miami Beach 2005, deparámos com uma placa com a seguinte inscrição “ EM 1706 BRUFE NÃO DAVA HOMENS AO SERVIÇO MILITAR MAS HONRAVA O PAÍS NA LUTA CONTRA O INVASOR”.
Factos ocorridos naquela aldeia há mais de 300 anos, omitindo-se os contextos e as razões daquela luta contra invasor, parecem completamente desligados da realidade actual.
Naquele tempo, o Povo da aldeia de Brufe, como o de muitas centenas de aldeias de Portugal, foi vítima de atrocidades de toda a espécie cometidas pelas tropas de Espanha nas guerras de Sucessão, por Portugal ser aliado da Inglaterra. O Povo simples e trabalhador vítima dos interesses das classes dominantes.
Passados cerca de 100 anos, Portugal é novamente invadido por tropas estrangeiras, neste caso, pelas tropas de Napoleão, que levou a corte portuguesa com seus apaniguados a fugirem para o Brasil em 1808. Foram, assim, novamente, alianças internacionais das classes dominantes a provocar desgraças.
Portugal passou a ser simplesmente um protectorado de França. Junot decretava impostos, confiscava jóias, ouros e pratas e Loisson, o Maneta, encarregava-se da sua aplicação e do resto. As tropas e administrativos franceses ou ao seu serviço não se esqueciam de complementarem o trabalho.
Junot era um homem que adorava o luxo, o dinheiro, as honrarias. Chegava “à porta do Teatro de São Carlos num coche de seis cavalos, com escolta de hussares empunhando archotes, a orquestra a tocar o Chant de Victoire e os …fidalgos de espinha curvada até ao chão”. É uma transcrição do livro “Razões de Coração" – Romance de paixões acontecidas em Mafra ocupada pelos franceses no ano de 1808, de Álvaro Guerra, publicado em 1991, que vale a pena ler. Aqui, os Homens e Mulheres do Povo honraram Portugal na luta contra o invasor.
Entre 1828-1834 dá-se a Guerra Civil Portuguesa, entre liberais e absolutistas, que teve consequências terríveis. Dezenas de milhar de mortos, milhares de estropiados, muitas famílias destruídas e muitas odiosamente divididas. E novamente alianças internacionais a intervirem directa e indirectamente. Também aqui, o Povo abraçou as causas de mais justiça e de menos exploração e saiu vitorioso.
O Povo nunca deixou de protestar, de resistir e de lutar contra as injustiças e a exploração. A luta pelo Pão, pelas 8 horas de trabalho, a luta contra a guerra, contra o fascismo e pela Liberdade e contra a perda de direitos conquistados envolveu e envolve milhões de portugueses. Muita repressão, muitas prisões, muitas mortes aconteceram. Escritores, poetas, artistas plásticos e cantores registaram para a História muitos destes acontecimentos. As mortes de Catarina Eufémia e de José Dias coelho, a prisão de Caxias, foram cantadas por Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Amália Rodrigues e outros.
Depois da Revolução do 25 de Abril de 1974, no 1º de Maio de 1982, na cidade do Porto, foram assassinados pela PSP, Mário Emílio Gonçalves, de 17 anos de idade, vendedor ambulante, da freguesia da Sé, e Pedro Vieira, de 24 anos de idade, delegado sindical têxtil. Em 26 de Maio de 2004, dois trabalhadores rurais alentejanos, Casquinha e Caravela, foram mortos a tiro pela GNR. As forças repressivas, nesses negros acontecimentos, provocaram inúmeros feridos. Estes trabalhadores, como tantos outros, manifestavam-se e protestavam legitimamente contra as injustiças de que eram vítimas. Não podemos esquecer estes acontecimentos.
Depois de sugarem tudo o que era riqueza nacional e deixarem os cofres vazios, as classes dominantes e possuidoras e seus lacaios, organizados internacionalmente, como tem sido ao longo da História, pretendem continuar a sugar e aumentar ainda mais a exploração do Povo, condicionando a sua vontade, formatando-o para aceitar pacificamente o fim de todas as condições de vida conquistadas com o 25 de Abril e muitas delas já conquistadas no tempo do fascismo. Pretendem restaurar o regime da escravatura.
Trabalhando para essa formatação, a quantidade de banqueiros, de “merceeiros” e “droguistas” e seus serventuários que entram em nossas casas, com vozes doces, (através das TVs, das rádios, etc.) a defender em nome da Pátria (deles!) a salvação nacional, a” negociação da nossa dívida”.
Servilmente, desempenham o mesmo papel dos fidalgos de espinha curvada até ao chão do tempo de Junot, agora perante a chamada TroiKa, constituída por um exército dos tempos modernos, que também vai legislar como no tempo do dito. Portugal passará a ser um protectorado dos banqueiros internacionais. E pretendem que o Povo também curve a espinha.
Esquecem-se que todos os impérios, desde a antiguidade, foram destruídos pela acção dos escravos.
Há muitos anos, José Afonso, cantando, alertou para estas situações que agora se repetem:
Os Vampiros
No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vem em bandos
Com pés veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
……..
A placa que existe em Brufe enquadra-se perfeitamente na realidade actual:
PORTUGAL NÃO DÁ HOMENS E MULHERES AO SERVIÇO MILITAR MAS HONRA O PAÍS NA LUTA CONTRA O INVASOR
1 comentário:
Parece que este Senhor sabe escrever!!! :)
Está muito bom, com um enquadramento perfeito.
Beijinhos,
...
Enviar um comentário