Futuro, Inovação, Tecnologia, Competitividade, Mobilidade, Mercado ... Passado, Saudades, Guerra Colonial, 25 de Abril, Democracia, Desenvolvimento …. É fácil falar do passado : temos memória. É mais difícil falar do futuro, a memória não dá muito jeito (confunde-se com saudosismo) : ficam as expectativas e cada qual serve-se do que lhe dá mais gozo. Toda uma série de desejos, aspirações, teorias e conspirações estão preparadas para servir à la carte, segundo a tendência de cada um.
Quando tive responsabilidades profissionais não fui muito bem sucedido, quando resolvi interpretar o futuro e fazer propostas que me pareciam com futuro. Na empresa, convencido das minhas competências, resolvi montar um plano para a minha área de actividade, com um conjunto de alterações funcionais e distribuição de tarefas. Reduzi a escrito o plano e justifiquei a proposta. Fui chamado à Administração e tinha acabado de entrar, quando o patrão (uma espécie de deus lá do sítio) me questionou : “Olha lá, pensas que isto é alguma cooperativa ? Olha que não é ! A tua área está devidamente estruturada e essa é um competência que não declinámos. Percebeste ? O que propuseste é um conjunto de equívocos que favorecem o by-pass e a desresponsabilização dos prestadores dos serviços. Agradecemos que o teu empenhamento se vire por inteiro para o cumprimento das tarefas como estão previstas no organigrama e respectivo manual. Deixa a César o que é de César”. Foi, assim que se passou. Levei na cabeça e emendei-me. De uma forma de outra, era certo que se houvesse falhas quem se tramava era cá o “Egas”.
Mas, como ainda tinha algum convencimento que podia fazer algo com a minha chancela de qualidade, certa vez tomei a ousadia de aconselhar um Cliente, com uma sugestão cheia de futuro. “É assim, Sr. Doutor (lá no sítio, este, estava acima de deus) : entendemos que tem sido dada demasiada a importância às iniciativas promocionais e se tem privilegiado uma comunicação excessivamente “hard selling”, quando se deveria dar um pouco mais de relevo à notoriedade da marca. O futuro passa por aí. Mais instituição e menos preço, é o que aconselhamos, no curto e médio prazo” O Sr. Doutor olhou para mim como se fosse um réptil e respondeu-me ; “a encomenda que lhe fiz e o trabalho que tem a prestar tem de ser conforme o briefing que passei. De resto, cumpra com competência o que lhe foi pedido, deixe-se de tergiversações que não têm pés nem cabeça. Ninguém sabe melhor do que eu o que é melhor para mim e para a minha Empresa. Aconselho-o a não repetir o abuso, sob pena de ter de dispensar os vossos serviços.” Depois desta cena, passei a ser muito cauteloso. Agarrei-me de unhas e dentes à rotina e a manter um estilo, prudentemente, low profile, porque de boas intenções e de promessas de um futuro melhor, está o inferno cheio.
A pensar num futuro com futuro, a Empresa em que trabalhava foi tomada por uma multinacional que por sua vez se fusionou com outra multinacional, formando uma nova empresa cheia de músculo. O centro de decisão para a península ibérica ficou sediado em Madrid, e a estrutura do Porto, totalmente dependente de Lisboa. O emagrecimento foi tal, que a porta continua aberta (no Porto) apenas para cumprir rotinas administrativas. “Fechar” nunca é um bom sinal para o mercado. Dizem os homens de Londres, Madrid e Lisboa, que este projecto tem futuro. E os que saíram, compulsivamente, acharão o mesmo ? Só podem ! Futuro oblige !
Não sei se no futuro estas coisas vão deixar de acontecer e se vamos ser mais solidários ?. ou se vamos, simplesmente, ser mais argutos na manipulação das novas tecnologias ? É bem provável que seja possível, num futuro próximo, a colocação de um chip nos humanóides, que permita monitorizar a actividade que exercem com eficácia, sem erros, emoção, traumas ou queixumes. Deixaremos, assim, de ter grandes pesos de consciência. A solidariedade e a afectividade serão para usar de forma muita restrita e contida. Um homem não chora : cumpre. Não haverá amor (apenas reprodução), viveremos sem auxílio (pois seremos auto-suficientes) e morreremos sozinhos (porque perdemos a serventia).
Provavelmente é esta a utopia que podemos esperar. Se for assim, não tenho saudades. Mas, pode ser que não seja assim e que o homem novo – qual D. Sebastião da nossa esperança – nasça, revelando preocupações sociais e ambientais suficientemente marcantes, para revolucionar as relações sociais e criar uma nova ordem, necessariamente mais justa.
Na dúvida, o melhor é viver o presente e tirar o máximo partido das coisas boas. Para mim, actualmente, é saborear todos os momentos que estou com o(s) meu(s) neto(s). É um pouco “piegas”, mas um happy end com alguma emoção, sempre dá um empurrãozinho à felicidade, nem que seja por uns breves momentos.
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