Mário Martins
Os vaticínios falharam mais uma vez: o povo não só não debandou, como ordenou que a direita ou centro-direita ganhasse as eleições, que a extrema-direita ou direita populista continuasse a sua cavalgada eleitoral, e que a esquerda soçobrasse.
Muito devido à derrocada do Partido Socialista e do Bloco de Esquerda, em conjunto a esquerda perdeu, comparando com as eleições do ano passado, quase meio milhão de votos e 23 deputados, salvando-se apenas o Partido Livre, que subiu cerca de 50 000 votos e obteve mais 2 deputados. Já o Partido Comunista contínua a sofrer a erosão da sua expressão eleitoral nacional, perdendo nos últimos 10 anos cerca de 262 000 votos, não chegando, agora, aos 184 000.
Para a corrente de opinião que não considera o PS de esquerda, então esta apenas representaria cerca de meio milhão de votos (em mais de 6 milhões de votantes), com apenas 10 deputados (em 230 lugares). Ou seja, nessa perspectiva, a esquerda é, em termos eleitorais nacionais, praticamente irrelevante.
Para essa corrente de opinião, o povo está mal informado e intoxicado pelos media, escusando-se, no entanto, a esclarecer onde existe uma comunicação social (mais) livre e desintoxicada. Segue-se daqui que o povo real vota contra o seu interesse, coisa que o Partido Comunista já lembrou e “repreendeu”, que o “povo que mais ordena” é um povo ideal, e que a Esquerda não tem nada a mudar.
Neste quadro lastimoso, os resultados das próximas eleições autárquicas, que serão vistos como uma segunda volta das legislativas, afiguram-se cruciais para a Esquerda minorar os estragos sofridos com o cataclismo eleitoral de Maio, e manter a sua influência no seio das populações locais.
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