Manuel Joaquim
Na Periscópio de Março passado não foi publicado o meu artigo por, segundo parece, não enquadrar-se no espírito da revista, apesar da mesma não pretender pôr em causa a liberdade política do autor e o texto ser da sua exclusiva responsabilidade.
A vida não está fácil para qualquer censor. Mas a censura, hoje, Já não se faz com o lápis azul como antigamente. Há decisões políticas à escala global para proibir determinados órgãos de comunicação social e determinados assuntos que ponham em causa a voz do dono.
Já antes da guerra na Ucrânia os sites da Rússia, da China e de outros países foram bloqueados. Brevemente haverá mais restrições. A União Europeia, na sua última reunião, decidiu nomear um finlandês para elaborar um relatório para estabelecer regras na comunicação social a nível europeu para acabar com opiniões que ponham em causa as suas orientações sobre a guerra na Ucrânia (Europa?). No domingo passado, numa intervenção musical, uma cantora referiu-se que por este caminho seremos proibidos de cantar determinadas canções.
Após o 25 de Novembro a censura fez-se com perseguições e despedimentos de jornalistas, privatizações e vendas de órgãos de comunicação social e o recrutamento de muita gente ligada aos novos poderes. Agora está aí com passadas invisíveis e o trabalho dos censores será fácil com a utilização de algoritmos que tomarão as convenientes decisões, o que, aliás, já se verifica. A imprensa não é livre e brevemente vai ser mais amordaçada.
A maioria dos comentadores são escolhidos a dedo. Uns expressam as suas opiniões, outras as opiniões de quem servem. Alguns sofrem de dissonâncias cognitivas que é um conflito mental entre os factos e o que pensam, seguindo em muitos casos um determinado guião. Para estes, existem países governados por ditadores, autocráticos, com falsas eleições, manipuladores e tudo o mais, mas são estes mesmos que passam o dia a proibir, a reprimir, a censurar e a intervir em casa alheia. Pretendem que os factos coincidam com o que pensam.
No domingo à noite assisti a um debate na CNN, sobre a guerra na Ucrânia e sobre o ataque terrorista em Moscovo, entre um senhor chamado embaixador José Vítor Silva Ângelo, nascido em 1949, no Alentejo, que foi secretário-geral da ONU, que passou anos em vários países de África como representante da ONU e que pelos vistos é conselheiro de segurança nacional, e o major-general Agostinho Costa. O senhor Vítor Ângelo depois de vários comentários e referindo as suas experiências defendeu a opinião de que o ataque terrorista tinha sido um autogolpe de Putin para justificar ataques a sério à Ucrânia. O major-general Agostinho Costa disse-lhe que os comentários não devem ser infantilizadores para os espectadores e devem ser baseados em factos. Que a Rússia tem feito ataques muito a sério na Ucrânia, não precisa de pretextos para intensificar a guerra. O embaixador, perdendo as estribeiras, declarou que o major-general para falar com ele tinha que se pôr em sentido e bater-lhe continência.
O embaixador deve dizer que experiências teve de terrorismo ao longo da sua vida especialmente nos países africanos por onde passou para ficarmos mais esclarecidos.
Do Poeta Palestiniano, Tawfiq Zayyad (1929 – 1994), transcrevo da revista O Militante, Novembro/Dezembro 2023, parte do poema
AQUI FICAREMOS
(…)
Aqui ficaremosFaçam-nos o piorNós guardamos a sombraDa oliveira e da figueiraNós semeamos as ideiasQual fermento na massaOs nossos nervos estão enregeladosMas o fogo do inferno aquece os nossoscorações.
Se tivermos sedeEspremeremos as rochasSe tivermos fomeComeremos a terraMas nunca partiremos.O nosso sangue é puroMas não o pouparemos.Aqui temos o nosso passadoO nosso presenteE o nosso futuroO nosso futuro está atrás de nós.Como se fôssemos vinte impossibilidadesEm Lydda, em Ramla, na GalileiaÓ raízes vivas agarrem-se firmementeE penetrem no fundo da terra.
É melhor para o opressorRefazer as suas contasAntes que a roda desande«Para cada acção há uma reacção» - ouçamO que diz o Livro.
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