Manuel Joaquim
Ao mexer em papéis antigos, encontrei um conjunto de folhas com textos e poemas escritos, nos anos de 1993 e 1994, por Gonçalo Leite, um Bom Amigo e Colega, muitos deles dedicados a colegas de trabalho, demonstrando uma rara sensibilidade transmitida numa escrita de qualidade.
Em homenagem a este Colega que não deve ser esquecido pelos demais, com votos de melhor saúde, permito-me publicar com sua autorização, um dos poemas.
“ (Um dia aconteceu que os homens se levantaram de seus leitos – após uma longa noite de pesadelos – e olharam assombrados para as ruas onde cravos e gritos de alegria saiam em conjunto dos interstícios das pedras. Afinal de contas a vida iria tornar-se possível, embora certos corvos andassem ocultos por entre nuvens invisíveis num céu extremamente azul)
Caiu-te do peito o cravo
que trazias, emprestado;
conseguiste entrar no favo
sem nunca teres trabalhado.
Viste o Sol sorridente,
viste um povo em alegria;
viste-te impotente
para o venceres nesse dia!
Mas o saber esperar
foi a tua obstinação,
para, de novo, humilhar
um Povo, uma Nação!
Da alegria fingiste-te parte,
da frente fingiste ser;
com trabalho e com arte
conseguiste convencer.
Esta gente desprevenida
em discursos e traições
que até te entregou a vida,
caído nas ilusões.
Dizias que eras do martelo,
E também eras da foice;
no trabalho um desvelo….
E lá escondeste o coice!
Também o punho erguido
era da tua estimação,
mas mudaste de partido,
que era outra a tua missão.
Serviste-te da mentira
para o poder alcançar.
Cuidado, que estás na mira
E um dia hás-de pagar!
Sempre promessas, promessas
De um futuro melhor…
É pena que te esqueças
que isto está cada vez pior.
Vinte e cinco de Abril,
dia de alegria aos molhos;
hoje as lágrimas são mil
a caírem-me dos olhos.
Porto 20 (Vésperas do 25) Abril 1993
Gonçalo “
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