StatCounter

View My Stats

01/12/23

A HUMANIDADE

Mário Martins

https://blogcarlossantos.com.br/wp-content/uploads/2020/04/Humanidade




Um modo de fazer de conta que não há diferenças de vário tipo entre os seres humanos (sejam elas sociais, culturais, de género, de maioridade, de carácter, de gosto, et cetera) é falar do seu somatório em relação a tudo o que não é da nossa espécie, quer dizer, falar da humanidade. Esta, sendo coisa que não existe, não passando, por isso, de mero conceito, padroniza cada ser humano, ignorando as diferenças em relação aos demais, que tanto ocupam a nossa vida e alimentam a imprensa, a literatura, a 7ª. arte. De um ponto de vista horizontal, cada ser humano concreto reconhece-se no espelho das diferenças dos outros, mas, verticalmente, como que deixa de existir para dar lugar a um conceito de falsa igualdade, embora útil e necessário. A humanidade homogeneíza o que é, de facto, heterogéneo. Daí o corolário: “todos iguais, todos diferentes”. 

Sabemos que a linhagem dos primatas, à qual pertencemos, surgiu há cerca de 65 milhões de anos, ou seja, cerca de 1 milhão de anos depois da catástrofe que dizimou os dinossauros, no fim do período geológico denominado Cretácio. Esta é uma escala de tempo que, verdadeiramente, não conseguimos apreender. Basta ter presente que 1 milhão de anos corresponde a 10.000 vezes o tempo de 100 anos, que alguns de nós conseguem viver.

Durante quase toda a nossa história estivemos sempre na mesma linha ancestral dos chimpanzés, com os quais compartilhamos cerca de 99% de ADN. É esta pequena diferença de 1% ou, no jargão científico, este defeito, que justifica o humano. Para alguns cientistas, o Homo erectus, que tinha o corpo de um humano adulto mas o cérebro de um bebé, e viveu num período situado entre um milhão e oitocentos mil anos atrás até há apenas vinte mil anos, é a linha divisória: tudo o que surgiu antes dele tinha carácter macacóide; a partir daí tudo se tornou humanóide, o que significa, por esta teoria, que o período de maturação da espécie denominada homo erectus durou qualquer coisa como 63 milhões de anos…Comparativamente, o homem moderno – o homo sapiens – precisou de “apenas” 1 milhão e meio de anos para emergir, há cerca de 300.000 anos atrás. 

Vinda da “noite dos tempos”, a humanidade continua sozinha neste mundo estranho e impiedoso (a predação, toda a sorte de cataclismos, o sofrimento de crianças, aí estão para o ilustrar), onde a vida se alimenta da morte. Quer sejamos ou não a única civilização do universo, o sentido do vasto cosmos e da nossa existência não é humanamente concebível. Esse é um domínio reservado da Natureza (considerando esta uma realidade não física absoluta – seja lá isso o que for - que determina tudo o que existe, aquilo a que os cientistas, à sua maneira, chamam leis da física), um mistério essencial a que ninguém pode aceder. É este “espaço” ininteligível que os homens, assolados pelo desconhecido e pela angústia existencial, preenchem com a sua imaginação e cultura, criando mitos, religiões (não cabe aqui examinar o papel individual e social que estas desempenham), divindades e paraísos celestiais, quer dizer, aquilo que a Natureza não é. Ecce Homo.






Sem comentários:

View My Stats