(HENRIQUE MONTEIRO Cartonista, Lisboa)
Realizaram-se no passado
fim-de-semana as eleições autárquicas, depois de tantas ofertas de dinheiro
para as autarquias, através de armas de guerra, bazucas ou metralhadoras,
seguros de saúde gratuitos para as pessoas na velhice carecidas de médicos de família,
transportes públicos gratuitos para os jovens e para as pessoas na terceira idade,
casas de renda acessível para quem não pode pagar, diminuição do IRS,
dinamização do comércio em virtude dos centros urbanos estarem abandonados,
resolução de quase todos os problemas que afectam as pessoas, e depois de uma
campanha da dita comunicação social a despejar sondagens a todo o momento, cada
qual a melhor, que levou alguém a dizer que “eram uma vigarice”, alguns
resultados foram surpreendentes.
Alguns gritam a plenos pulmões
que saíram vitoriosos. Outros assumem derrotas. A seu tempo vamos assistir a
situações curiosas. A contagem de votos e respectivas percentagens mostram que
alguns vitoriosos estão em minoria, tanto nos respectivos órgãos como no apoio
da respectiva população.
Vemos, ouvimos e lemos que a
situação de Portugal é muito boa, o programa de vacinação é o melhor do mundo
e, a pretexto disso, mas é só pretexto, pretendem sanear um almirante para
colocar o outro das vacinas como reconhecimento. O que me parece é que o poder
político está a utilizar pessoas fardadas como produtos descartáveis e isso é
muito perturbador. E a procissão ainda vai no adro. A economia está em
aceleração; o desemprego diminui a olhos vistos, a inflação está sob controlo.
A economia não está conforme nos
pintam. A bazuca, o Plano de Recuperação e Resiliência, não vai resolver os
problemas existentes. A economia portuguesa tem nos últimos vinte anos a mais
baixa taxa de crescimento da EU, uma média de 0,8%. Foi privatizado quase tudo,
bancos, seguros, empresas industriais, transportes, energia, telecomunicações,
resíduos, serviços camarários, agravaram as leis laborais, congelaram salários,
privatizaram uma parte substancial da saúde e do ensino. Era este o caminho
para Portugal crescer, defendido pelas classes dominantes, mas tal não aconteceu.
A galinha dos ovos de ouro estava
no turismo e nas remessas dos emigrantes. Estas satisfizeram durante alguns
anos, particularmente no tempo do fascismo, mas hoje não têm o mesmo peso. O
turismo é o que se sabe.
O desemprego está encoberto, e o
emprego que existe é precário e sem fim à vista, os preços dos bens de consumo
estão a disparar, e de todos os restantes bens, o aumento dos preços da energia
é assustador, para a indústria, para o comércio e serviços e para o consumo
doméstico, mas estamos aliviados com as palavras do ministro do ambiente que
diz que “ a electricidade provavelmente já não vai subir em 2022”(?).
Se não forem tomados outros caminhos Portugal continuará a definhar, para desgraça dos portugueses.
Em 7 de Maio de 2021 realizou-se
no Porto, com grande pompa, a Cimeira Social do Porto, da responsabilidade da
Presidência Portuguesa do Conselho da Europa. Teve uma agenda particularmente
importante, assumindo o “Compromisso Social do Porto”, estabelecendo metas: -“
Taxa de emprego de pelo menos 78% da população da EU; - Pelo menos 60% dos
adultos devem participar anualmente em formação; - Redução do número de pessoas
em risco de exclusão social ou de pobreza em pelo menos 15 milhões de pessoas,
entre as quais 5 milhões de crianças”.
Como é possível a União Europeia,
constituída pelos países mais ricos do planeta, o primeiro mundo, não ter
vergonha de pretender reduzir até 2030 o número de pobres e entre eles 5
milhões de crianças? Quantos pobres existem, quantas crianças estão na situação
de carência?
Cimeiras anteriores já tinham
tomado decisões neste sentido. O que fizeram? Nada! Os jornais e as Televisões não
dizem nada.
As campanhas contra a Republica
Popular da China tem, também, a ver com isto. É que a luta contra a pobreza na
China tem resultados de acordo com os objectivos traçados. Em cada plano são
retirados da pobreza dezenas de milhões de pessoas. Tomar conhecimento sobre o que
se passa na China, particularmente no campo, onde as situações de maior
carência se manifestam, designadamente com a saúde, habitação, educação e
economia é revelador dos caminhos políticos seguidos.
Realizou-se há poucos dias a
Assembleia Geral das Nações Unidas com muitas intervenções de dirigentes
mundiais. O Secretário-geral, que conhecemos, alertou para os perigos da
guerra. E teve razão. Mas podia alertar para muitas mais coisas mas, por interesse,
omitiu-as. Teve a oportunidade de falar sobre o Brasil, pois esteve o próprio
Bolsonaro. Não é o problema das vacinas, mas é o problema de mais de 100.000
crianças órfãos e mais de 6.000 militares colocados no aparelho de estado. Já
houve golpe de estado? Sérgio Trefaut, realizador do filme "Paraíso", publicou um
artigo muito elucidativo sobre a situação no Brasil, no jornal Público, de 20
de Setembro passado.
Com o falecimento do Presidente
Jorge Sampaio, soube-se que o Secretário-geral, em determinada cerimónia onde
estava com Jorge Sampaio, evitou cumprimentar Fidel Castro. Provavelmente por
interesse, para não se comprometer e não criar dificuldades a quem o colocou a Secretário-geral,
com a graça jesuítica.
Mas o que ele está a observar e a
preocupá-lo são as contradições imperialistas que estão em pleno
desenvolvimento. É a China, é a Rússia, é a Bielorrússia, é o Afeganistão, é a
Coreia, é a América do Sul, são as contradições dentro da União Europeia com a
tentativa de formação de novas organizações militares, com órgãos em luta com acções
em tribunal com o pedido de expulsão de Hungria, é a situação interna nos
Estados Unidos.
É a França a pedir para não se confiar nos
Estados Unidos, a dizer “que lhe espetaram uma faca nas costas.” Os EUA, a
Inglaterra e Austrália estabeleceram mais uma organização militar, anunciada em
15 de Setembro de 2021. A França perdeu um negócio chorudo de venda de
submarinos. Esqueceram-se que tinham feito o mesmo com a Rússia quando
rescindiram um contrato de fornecimento de dois porta-helicópteros.
Vamos continuar a acompanhar a
situação no mundo como faz o Guterres.
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