Mário Martins
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O célebre maestro e genial compositor, o checo-austríaco ou, como ele dizia, o três vezes apátrida Gustav Mahler - "Sou três vezes apátrida! Como natural da Boêmia, na Áustria; como austríaco, na Alemanha; como judeu, no mundo inteiro. Em toda a parte um intruso, em nenhum lugar desejado!” – não resistiu à tentação, depois de muito hesitar, desesperado com a sua vida (tinha-lhe morrido uma filha e a mulher, com depressão, tornara-se amante do arquitecto Walter Gropius, fundador da famosa escola de arte vanguardista alemã, a Bauhaus), de se deitar no divã do pai da psicanálise, o igualmente judeu e austríaco-checo, Sigmund Freud, sem naturalmente saber que morreria no ano seguinte, aos 50 anos.
Freud, que diagnosticara em Mahler um quadro de neurose
obsessiva, não pôde deixar de ver no acto de, aos 41 anos, desposar Alma
Shindler, vinte anos mais nova, uma substituição da mãe de Mahler,
que era enfermiça e aflita, características que ele desejaria reconhecer na
mulher, enquanto Alma buscara em Mahler
o seu próprio pai, e foi justamente a diferença de idade - que tanto preocupava
Mahler - que a atraiu, como ela própria viria a reconhecer: “Freud
tinha razão. Quando Mahler me conheceu, desejava que eu fosse ‘marcada
pelo sofrimento’, foram essas as suas exactas palavras (...). Eu, também,
procurei realmente um homem baixo, atarracado, mas dotado de sabedoria e de um
espírito superior, como conhecera e amara meu pai...”
Mahler foi muito marcado pela infância: “Os meus pais davam-se como o fogo e a água. Ele era um teimoso, ela a própria candura. Sem essa aliança, nem eu, nem a minha 3ª. Sinfonia existiríamos.” Sendo o segundo mais velho de catorze irmãos, teve de disputar a preferência maternal e de suportar a morte de dez deles.
No divã de Freud, Mahler imputará a uma ocorrência da infância o facto de as suas composições mais geniais serem entremeadas por música mais popular e vulgar, ao lembrar-se de uma grande zanga entre o pai e a mãe, que o levara a fugir de casa a correr e a ouvir fortuitamente na rua, uma melodia popular tocada por um realejo. “Desde esse momento, a nobre tragédia e a fácil diversão estariam inexoravelmente unidas na minha mente e qualquer um desses sentimentos atraía o outro”.
Parafraseando Pessoa, Mahler era um doente cardíaco das estrelas, uma vez que lhe fora diagnosticada, quatro anos antes de morrer, uma infecção do coração, o que ajuda a explicar o retrato que a mulher, Alma Mahler, fez dele após a sua morte:
“Não tinha sossego nunca, em
lugar algum. Por toda a parte, atormentava-o o medo de desperdiçar tempo de
trabalho. Perseguido, acossado por um caçador invisível - a morte -, foi assim
que o conheci durante os dez anos em que pude conviver com ele. Desde muito
cedo, Mahler vivia como se sentisse que estava predestinado a morrer
jovem e, por isso, não se dava ao luxo de viajar, de tirar férias; pelo
contrário, trabalhou muito até à sua morte.”
“O meu tempo há-de chegar”
confiava Mahler, ao ver reconhecidas apenas as suas qualidades
excepcionais de maestro, e não o que mais gostava de fazer, as suas composições
musicais.
E de facto a posteridade não o
atraiçoou. Obras-primas como as 1ª., 2ª., 3ª. e 5ª. sinfonias, entre outras,
são hoje admiradas e tocadas pelas orquestras de todo o mundo.
Fontes:
- http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-14982017000300714
- Wikipédia
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