Manuel Joaquim
Aqui há uns tempos os jornais falavam de forma muito viva que
a cidade do Porto estava a ser inundada de AL que estavam a pôr em causa o
alojamento de muitas famílias. Com o vírus a maior parte dos AL não estão ocupados
por falta de turistas. Alguns deles estão a ser utilizados por pessoas que
estão confinadas para não estarem a viver com as suas famílias e por jovens
deslocados quer nacionais quer estrangeiros. As suas receitas não compensam as
despesas.
Na parte central da cidade, muitas ruas continuam com uma quantidade
muito grande de prédios entaipados, em derrocada, sem solução à vista. Pelos
vistos, os AL não foram suficientes para acabar com essas tristes vistas.
Entretanto há zonas da cidade que estão a ter profundas
alterações. A transformação de grandes imóveis em hotéis não abranda. Novas
construções de muitos dezenas de milhões continuam, privilegiando zonas
universitárias, zonas industriais e zonas de fácil acesso a transportes
públicos – Metro, comboio e avião. Muita dessa construção destina-se a
alojamento de estudantes/trabalhadores e a grandes áreas de serviços. São
instituições financeiras, fundos de investimento, nacionais e internacionais
fechados com interesses noutras áreas, nomeadamente na construção e nas novas
tecnologias, e multinacionais.
Instituições religiosas, conhecedoras das modificações que
estão a acontecer na sociedade e na economia, estão também a transformar
propriedades que possuem no Porto para alojamento de estudantes/trabalhadores
deslocados.
Na zona da Lapa vai nascer um grande empreendimento,
destinado a serviços, estrategicamente localizado.
A cidade do Porto tem escolas e universidades de boa
qualidade que formam muitos jovens nacionais e internacionais nas áreas das ciências,
das matemáticas, das tecnologias.
As empresas tecnológicas recrutam muita mão-de-obra qualificada.
São criadas condições de alojamento em pequenos espaços, simpáticos, com áreas
de convívio, com transportes acessíveis, locais, regionais e internacionais. Os
locais de trabalho são espaços abertos, com aparentes requintes. Tirar o
calçado à entrada, local para estacionar as bicicletas, horas de entrada mas
não de saída, pausa para comer, a não existência de “chefes tradicionais e
autocráticos”, mas “gestores”. Estes jovens trabalhadores, altamente qualificados,
têm salários em média acima do salário mínimo mas muito inferiores aos salários
que são pagos noutros países da Europa. Estas empresas já não precisam de se
instalar na India para pagar salários baixos. Novas roupagens para continuar a
exploração do trabalho.
Quem estiver com atenção ao que se passa nas ruas verifica a
passagem de centenas de motociclistas com contentores às costas a transportar
comida. Durante a noite são às dezenas que se juntam à porta de pizzarias e de
restaurantes take-away. São as plataformas digitais a funcionar com
trabalhadores sem contratos de trabalho sem regras a maior parte imigrantes e
estudantes. É um outro tipo de exploração que grassa a criar novos escravos.
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