Mário Martins
Grupo de Figuras Cúbicas – Luca Cambiaso (1527-1585) https://www.pinterest.pt
“Em vez de reproduzir o que os meus olhos vêem, prefiro usar a cor de modo a expressar claramente o meu eu.”
Vincent Van Gogh
"Um artista é alguém que produz coisas de que as pessoas não necessitam, mas que ele - por qualquer razão - acha que seria boa ideia dar-lhes."
Andy Warhol
Parece inquestionável afirmar que a invenção da máquina fotográfica e o processo industrial, lançaram a pintura e a arte para novos caminhos. Não terá sido, certamente, por acaso que o Impressionismo (“pinto o que vejo e não aquilo que os outros se dignam ver”, dizia o jovem Edouard Manet, ou, na apreciação mais irónica de Pierre-Auguste Renoir, “uma manhã, um de nós esgotou a tinta preta; e foi o nascimento do Impressionismo”) e com ele o início da arte subjectiva e da era da modernidade na arte, não terá sido por acaso, dizia, que esta nova maneira de pintar irrompeu nas décadas seguintes ao advento da fotografia, em 1826, quando Joseph Nicéphore Niépce conseguiu retratar, numa placa de estanho coberta de betume da Judeia, o quintal da sua casa na cidade francesa de Chalon-sur-Saône. Os artistas perceberam que não podiam continuar a retratar “realisticamente” paisagens e pessoas, bocados de realidade aparente que a fotografia captava melhor e mais rapidamente.
Contrariando os vaticínios do fim da pintura, os artistas não deixaram, desde então, de nos surpreender e de inaugurar movimentos numa direcção cada vez mais abstracta e cada vez mais difícil de definir. Atente-se, por exemplo, no que dizia, há 40 anos, a pintora nova-iorquina Marcia Hafif: “Em vez de aceitar a simples dualidade habitual entre realismo e abstracção, devemos subdividir a pintura contemporânea em pelo menos quatro categorias diferentes: 1. Representação da natureza; 2. Abstracção a partir da natureza; 3. Abstracção sem referência à natureza; e, finalmente, 4. O tipo de pintura de que tenho vindo a falar – categoria para a qual não existe termo minimamente satisfatório. (…) É não figurativa e não icónica; existe por direito próprio no mundo e não simboliza nem representa nada (a não ser, talvez, “pintura”) (…).
E não raro, os artistas saltam fora do seu tempo, como é o caso do pintor genovês Luca Cambiaso que, em plena Renascença, no meio da sua obra ao estilo do mestre Rafael, de que se evoca este ano o 5º. centenário do seu desaparecimento, desenhou para a posteridade figuras cúbicas como as da imagem acima. Ao consultar um livro de história da arte do século XVI, com as suas pinturas típicas do Renascimento e do Maneirismo, é verdadeiramente estranho depararmos com um desenho como este, que nos dá a impressão de ter sido por erro a sua inclusão no volume de história da arte de quinhentos em vez do volume de história da arte moderna, que irromperia três séculos mais tarde. Como explicar isto?
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