Manuel Joaquim
No passado dia 25 de Maio, na Universidade Popular do Porto, foi apresentado o livro “Memórias de uma Falsificadora, a Luta na Clandestinidade pela Liberdade em Portugal”, de Margarida Tengarrinha. Para além da autora, estiveram presentes o Professor Doutor Manuel Loff, Historiador no Departamento de História e Estudos Políticos e Internacionais da Universidade do Porto e Investigador no Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa; o Doutor Silvestre Lacerda, Director do Arquivo Nacional da Torre do Tombo e o Editor da Edições Colibri, Fernando Mão de Ferro.
Os espaços da UPP foram pequenos para tanta gente, apesar das intervenções serem transmitidas por vídeo para outra sala. Gente que já não via há muitos anos, gente que não me lembro de ter visto, gente que não contava ver.
Manuel Loff, que prefaciou o livro evidenciando a vida política e clandestina da autora, hoje com 90 anos de idade, que foi companheira de José Dias Coelho, assassinado em 19 de Dezembro de 1961, pelo PIDE António Domingos, que tinha como chefe de brigada José Gonçalves, cuja morte foi cantada por Zeca Afonso - “A morte saiu à Rua” – baseando-se no que tinha escrito no Prefácio, enriqueceu com as suas sabedoras palavras determinados episódios da vida de Margarida Tengarrinha que se confundem com a História do PCP, com a luta de tanta gente que anonimamente lutou contra o fascismo e que, dessa forma, abriu o caminho para o 25 de Abril de 1974.
O livro de Margarida Tengarrinha, é uma obra exemplar de recordações e de factos históricos mal conhecidos que são necessários enquadrar na História de Portugal. Sem esse enquadramento não se pode conhecer a História do século XX.
Margarida Tengarrinha, no capítulo “Quarenta mil pessoas contra a carestia da vida e as guerras coloniais”, refere-se à organização da manifestação realizada na baixa do Porto em 15 de Abril de 1972, contra a carestia.
Recordo-me que o Sindicato dos Seguros do Norte realizou um colóquio sobre o tema “O que é a Inflação?” com o Professor Armando Castro, que teve uma participação muito grande de profissionais de seguros.
Recordo-me de ter participado nessa manifestação, que teve intervenção policial muito violenta, onde um colega de trabalho da Mutual, o Mesquita, foi barbaramente espancado antes e depois de estar estendido, inanimado, na valeta da rua junto à estátua do cavalo. Tive oportunidade de fotografar o espancamento do Mesquita e diversas passagens da manifestação, a partir de um terceiro andar da Rua do Almada, por cima da Ateneia, pensão de um colega do ISCAP, trabalhador bancário. Mais tarde, o rolo fotográfico foi-me pedido pelo António Mesquita a quem o entreguei.
Margarida Tengarrinha, no capítulo “Presos que fogem não aceitam grades” descreve passos da vida de Francisco Miguel. Esteve “ preso mais de vinte anos, percorrido todos os cárceres fascistas e fora o último preso político a sair do Campo de Concentração do Tarrafal, onde permanecera vários meses completamente só”. “Poucos camaradas terão experimentado, como ele, todos os tipos de tortura desde os espancamentos mais brutais à “frigideira” do Tarrafal, desde os “curros” do Aljube à estátua e à tortura do sono na sede da PIDE na rua António Maria Cardoso, onde tinha passado cerca de um mês na tortura do sono….”. Refere que “Foi o preso político que maior número de vezes fugiu das prisões em Portugal (e talvez no mundo), pois somou um total de quatro fugas das cárceres fascistas.”
Conheci Margarida Tengarrinha pouco tempo após o 25 de Abril de 1974. E conheci o Francisco Miguel no dia 28 de Setembro de 1974. Nesse dia, Eu, o Francisco Miguel e a Margarida Tengarrinha participámos numa sessão de esclarecimento político com jovens, que teve de ser interrompida pelos acontecimentos que estavam a ocorrer no País.
Recordo-me de um dirigente do meu Sindicato ter ido a Lisboa tratar de um assunto qualquer à sede do PCP. A pessoa que estava de serviço à porta era o Francisco Miguel. Ficou espantado. Como era possível um alto dirigente do PCP ter como tarefa, além de outras, a portaria. No Porto manifestou esse espanto.
Margarida Tengarrinha e Francisco Miguel são heróis da História de Portugal.
1 comentário:
Foram Homens e Mulheres imprescindíveis na luta contra o Fascismo. Esquecê-los é esquecer a nossa história e sem história não há consciência! Gostei muito deste texto. Parabéns, Manuel Joaquim.
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