António Mesquita
Tibério (42 a.C a 37 d.C) |
“Desde o começo do principado, o Senado renunciou energicamente a governar; em vão Tibério pretendia consultá-lo sobre todas as coisas e até sobre o exército e a guerra, que eram prerrogativa sua: o Senado não acreditava nisso e tinha razão, porque Tibério, não menos dividido que ele, ‘detestava a lisonja, mas não receava menos o franco-falar’. Estas contradições reduziram o príncipe à neurastenia e o seu reino terminou num banho de sangue; houve conflito entre o Senado e o príncipe, não porque o Senado quisesse a sua parte do poder, mas porque não a queria.”
“Le pain et le Cirque” (Paul Veyne)
Se renunciava a governar, o Senado esperava pelo menos que não lhe faltassem as honras devidas e que, entre o povo e os senadores, César preferisse sempre a “sua família”.
Tibério, que sucedeu a Augusto, um verdadeiro “príncipe perfeito”, tinha tal como seu predecessor veleidades republicanas, as quais não podiam ser levadas a sério pelos mais interessados. É ainda a história do “com o teu amo não jogues as peras”. Aos senadores bastava que o príncipe “tivesse tacto suficiente para não lhes fazer a duvidosa e temível honra de lhes pedir a sua opinião, e que fosse suficientemente bom príncipe para esperar as suas aclamações sem as exigir: elas não tardarão nunca.” (ibidem)
O Senado parecia assim um órgão supérfluo, um monumento vivo a lembrar os tempos idos das liberdades cívicas. Registavam as decisões do príncipe e punham o seu selo. Como as agências de rating conferiam o seu AAA aos gigantes falidos… É que o dinheiro também impõe a sua tirania.
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