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01/12/17

COREIA DO NORTE

Mário Faria







Fazia um périplo sobre a minha biblioteca pessoal, na busca de um tema para o Periscópio porque, por estas bandas, a seca de ideias é severa e grave. Foi de cócoras a folhear dezenas de documentos, que tomei conhecimento que “Trump reagiu ao novo míssil da Coreia dizendo que os EUA vão tomar conta do assunto. Kim Jong Un declarou por terminado o seu programa nuclear, garantindo que o míssil balístico disparado (o primeiro lançado desde Setembro) tem capacidade para atingir Washington”.

Divagava sob a Coreia e as ameaças nucleares que pairam no ar, quando me caiu no bornal um artigo do Público de 2003, com o título “Empresa de Rumsfeld vende reactor à Coreia do Norte”. Li, achei curioso e pronto a servir de tema para o mês de Dezembro. No meu entendimento, a preguiça valeu a pena e o que se segue faz parte do que foi noticiado naquele diário.

Donald Rumsfeld, secretário norte-americano da Defesa, era um dos directores de uma empresa que, há três anos, vendeu dois reactores nucleares de água leve à Coreia do Norte, noticiou o The GuardianO contrato foi assinado no âmbito de um acordo entre Washington e Pyongyang, numa altura em que o então presidente Bill Clinton defendia uma política de aproximação ao regime. Agora, pelo contrário, o governo americano não só inclui a Coreia num eixo do mal, como tem vindo a colocar a hipótese de mudar a liderança do país, invocando o desenvolvimento de armas de destruição maciça.

Entre 1990 e 2001, Rumsfeld fazia parte da direcção da ABB, com base em Zurique, quando este gigante da engenharia conseguiu ganhar um contrato de 200 milhões de dólares para conceber os dois reactores nucleares. O seu salário era então de 190 mil dólares anuais. Deixou o cargo para se juntar à actual Administração do Presidente George W Bush. 
O negócio dos reactores fazia parte de uma política de aproximação entre os dois países: os EUA comprometiam-se a construir os reactores de água leve e as autoridades coreanas suspendiam os seus reactores de água pesada, capazes de produzir plutónio enriquecido, com aplicações militares.

Rumsfeld, questionado sob o tema, afirmou que não se lembra de o negócio ter sido abordado pela direcção em nenhuma altura. Ao invés, membros da actual administração de Bush consideram que os interesses pessoais tiveram precedência sobre a política de não proliferação de armamento nuclear.

Já membro do Governo americano, Rumsfeld afirmou que o regime coreano é um regime terrorista à beira do colapso. E depois das ameaças de Pyongyang de que poderia reactivar o seu programa nuclear a qualquer momento, o chefe da defesa avisou que os EUA são capazes de combater duas guerras ao mesmo tempo: contra o Iraque e contra a Coreia do Norte.

14 anos depois, como estamos? Para além da mudança de actores que torna a situação ainda mais instável, e que teve como efeito, para já, a militarização do Japão, o que muito incomodará a China, o que perspectiva que este jogo de guerra ainda fica mais complicado. Porém, o perigo maior vem dos EUA: é de temer que a perda da sua influência no xadrez mundial a favor da China, possa empurrar Trump para uma deriva militar de consequências imprevisíveis. O mundo está perigoso. Como sempre.





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