Mário Martins
“Iremos controlar a vida? Penso que sim. Todos sabemos como somos imperfeitos. Por que razão não nos tornaremos um pouco mais capazes de sobreviver? É o que faremos.”
James Watson
Co-autor do modelo de dupla hélice para o DNA
“Não quero viver para sempre através das minhas obras. Quero viver para sempre não morrendo!”
Woody Allen
Cineasta
A notícia apanhou-me desprevenido: 50 anos depois do primeiro transplante de coração, está agendado para este mês o primeiro transplante de cabeça. De quê!? Depois da operação, quem é quem? Na Internet há mais de dois anos que se fala nisso: um neurocirurgião italiano, liderando uma equipa de 150 assistentes, propõe-se fazê-lo, talvez na China, a um candidato russo de 32 anos, com uma doença rara de progressiva atrofia muscular que já só lhe permite mover as mãos, a um custo proibitivo de 31 milhões de dólares!
Em rigor, não se tratará de um transplante de cabeça mas sim de um corpo. O procedimento será cortar a cabeça do candidato vivo e instalá-la no corpo, igualmente guilhotinado, do dador recém-morto. O leitor poderá consultar os detalhes técnicos na Internet.
Admitindo que, agora ou no futuro, esta operação venha a correr bem, o receptor vivo usará, sentirá, tocará, como seu, o corpo estranho de um cadáver. E o dador morto, terá gozado em vida a sensação de o seu corpo continuar, de algum modo, a existir depois de morto, agora subordinado a outro eu…
Se este é um projecto aparentemente louco, o que dizer da visão do austríaco Hans Moravec, perito em robótica e inteligência artificial, que imagina (num futuro distante, quando formos capazes de manipular individualmente os neurónios) uma fusão biónica entre seres humanos e máquinas? O cérebro poderá ir sendo substituído, peça a peça, por uma massa mecânica de neurónios electrónicos. Depois de completo, o cérebro robô possuirá todas as recordações e padrões intelectuais da pessoa original, mas estará alojado num corpo mecânico de silício e aço, capaz de viver para sempre…*
Na sua obra inquietante mas profética, escrita em 1932, “Admirável Mundo Novo”, o escritor inglês Aldous Huxley descreve ficcionalmente uma época em que os líderes mundiais decidem estabelecer uma Utopia baseada na felicidade e na estabilidade, em vez de em conceitos que se revelaram instáveis e confusos por natureza, como democracia, liberdade e justiça. Ser infeliz é infringir a lei e a chave para este paraíso tornado obrigatório pelo Estado é a biotecnologia. As crianças são produzidas em massa em enormes fábricas de embriões e clonadas de modo a produzir um sistema de castas de seres humanos. A felicidade é assegurada por lavagens ao cérebro incessantes, por entorpecedores e pelo acesso ilimitado a drogas e sexo estupidificantes. Na década de 50, Huxley escreveu: “Situei o romance 600 anos depois do nosso tempo. Hoje em dia, parece bastante possível que o horror caia sobre nós num espaço de cem anos”*…
*In “Visões”, de Michio Kaku.
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