Mário Faria
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No Verão, no mês de Setembro, fui durante alguns anos para Paradela de Trás-os-Montes. Era um calvário para mim. Muito calor e um ambiente demasiado rural. Comia-se sopa de abóbora e batatas cozidas regadas com azeite. O pão era cozido no forno e azedo. A fruta em abundância era a salvação. E os bons amigos que por lá fizemos, ajudaram a mitigar a precariedade das condições à nossa disposição. Emagrecíamos e a minha mãe decidiu acabar com as férias em Paradela. Por essa altura, o meu pai nas poucas palavras que deixava, disse: quando fores mais crescido vou levar-te á natureza, mais próxima e amiga. Não cumpriu. Em vez disso, levou-me ao Estádio das Antas e gostei muito do que vi. E fiquei seduzido para sempre. No início deste mês, com intenção de visitar os passadiços de Arouca, fui para essas bandas. Marquei hotel, no cu de Judas, lá para as bandas de Castelo de Paiva. A viagem teria decorrido melhor se a moça do GPS não estivesse afónica. No fecho, tivemos de ultrapassar uma estrada apertada e com um declínio que metia medo, com cerca de quilómetro e meio, quase toda de via única. Chegados, demos com um panorama deslumbrante: finalmente, tinha descoberto a natureza que me tinha sido prometida. Mas, a natureza não é perfeita. Um fogo de manhã e outro de tarde, combatidos com helicópteros e Canadairs, foram vencidos com sucesso. Mas a ameaça ficou. A recepcionista desvalorizou os nossos temores e disse: “é fogo posto, só pode; aqui não chega porque a humidade não deixa”. Lembrei-me de Angola e das intensas e belíssimas matas que constituíam um refúgio seguro em caso de incêndio, natural ou malicioso. Umas boas passeatas pelo rio Paiva deslumbraram-nos. Da parte da tarde, o sol e os mergulhos na piscina suavizavam o calor. O pessoal (apenas quatro operacionais) dava conta do recado com uma ligeireza e uma simpatia que nada ficava a dever ao encanto do lugar. Gostei muito, mas não sei se voltarei. A estrada não é amiga e os fogos são uma ameaça permanente. Alem disso, sou um inveterado citadino e desconfio da natureza, da sua desordem e das suas manifestações brutais. No empreendimento turístico onde o campo foi domesticado, colonizado e anexado à vida urbana, sinto-me mais confiante. Mas nunca se sabe: a natureza não é um estado idílico permanente.
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