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01/07/17

UMA MANHÃ DE RAIVA


Mário Faria




Saí de madrugada (10h) para adquirir um comando de TV na Meo. Fui a pé: ando a queimar gorduras, a praia está próxima. Lá chegado, tirei a senha. Fui atendido muito rapidamente. Rebate falso: a menina que me atendeu explicou-me que para adquiri o comando tinha que me dirigir ao andar superior e pressionar a letra “I” para ser assistido. Assim fiz. Em baixo, o ambiente era do tipo SNS, em cima cheirava a Guerra das Estrelas. O público estava completamente absorto nas suas tarefas. Como invejo o ar sapiente daquela gente. 30 minutos depois, a moça-empregada chamou-me. Expliquei ao que vinha. Respondeu-me que não tinham comandos, de forma indiferente, a mascar chiclete. Fiquei zangado e à beira de uns quantos palavrões, quando me explicou que poderia, através de um qualquer Meo Go, aceder a todos os canais televisivos. Tirou-me do sério e deixei toda a revolta no texto que juntei no livro de reclamações que vai surtir o mesmo efeito que os emails do Francisco J na justiça. As grandes corporações estão acima da lei e dos bons costumes. Regressei a casa à peanha, depois de ter desistido de entrar nas filas chorudas dos transportes públicos. Cheguei cansado ao lar. O tapete novo comprado a preço de ouro continua a cheirar a loja dos chineses. Estava enjoado e voltei à rua. O casal que espio há muito tempo tomou o rumo do Jardim de Arca de Água. Ela à frente e o homem a um metro dela. No jardim aproximaram-se e caminharam lado a lado. De repente, dão um saltinho e soltam uma risada quando a rega os molhou. E falaram um com o outro. A aparente prova de silêncio tinha caído. O mistério adensa-se e não tenho respostas. Tenho de falar com o Chico Fininho. Tomei o autocarro, o 600, cheio a abarrotar. O barulho era ensurdecedor. Uma zaragata bem-disposta e em tom familiar, até que uma mulher com voz estridente e quase aos berros, perguntou: “é aqui a paragem de Vale Formoso?” ao que um homem respondeu,  com voz grossa e mau hálito: “não, é de Nova Iorque”. Os risos provocaram na mulher uma reacção intempestiva que continha tudo de melhor da língua portuguesa. Saiu, e acenou um adeus com o dedo médio, devidamente estendido e a sorrir de boca aberta e sem dentes. O povo gargalhou mas por pouco tempo. Duas amigas (?) pegaram-se: discordavam sobre as causas e o combate aos fogos. Uma dizia que os bombeiros eram gordos e incompetentes e a outra que eram uns heróis. O tom aqueceu e passou a insulto. O motorista parou a viatura e pediu compostura. Aproveitei para sair. A minha paciência tinha chegado ao limite. Voltei a casa. Tinham tentado arrombar os arrumos. A comandante da casa, tomou conta da ocorrência e gizou o plano de defesa. Havia um movimento inusitado com a contribuição dos vizinhos mais próximos. Perguntado se achava bem o plano gizado, sugeri que o melhor era comprar um cofre para defender os bens. Tornei a sair, sem ouvir a resposta. Encaminhei-me para a caixa multibanco mais próxima mas a máquina comeu-me o cartão e não me deu o dinheiro. Voltei a casa para o anular. O comité de crise já tinha chamado um serralheiro para blindar os “arrumos”. O processo de anulação do cartão foi um sucesso. Tornei a sair e fui ao banco para receber um novo cartão. Voltei ao 600 e a viagem foi um sossego. Finalmente um pouco de paz. 

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