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01/12/16

A ALDEIA DOS MACACOS E O DIREITO À PRIVACIDADE

Mário Faria

(Jornal de Mafra)


Como todos os mancebos, por aqueles anos, tive de cumprir o serviço militar obrigatório. A recruta e a especialidade foram cumpridas em Mafra. Seis longos meses. A aplicação militar mais dura, desenrolava-se na Aldeia dos Macacos. Por lá, erámos submetidos a um teatro de guerra imaginário e os exercícios de risco e de superação do medo, pouco se ajustaram à realidade que encontrámos, mais tarde. “O rei manda marchar, não manda chover” justificava a rudeza. No fecho daqueles seis meses, fomos levados para a Serra de Montejunto onde fizemos manobras militares durante uma semana. A guerra suspende os direitos humanos e a preparação seguia o guião. Os instrutores tinham um enorme poder sobre os formandos. Em Angola, fomos atirados para a mata sem experiência e com escassos meios. Já por essa altura os comandos e os paraquedistas eram grupos de elite. Melhor preparados e equipados, obviamente. E muito arrogantes, em função do reconhecimento dessa superioridade operacional. A morte recente de dois jovens no curso de comandos, veio a público e há quem lamente o ocorrido mas encontre justificação neste tipo de práticas, na certeza dos riscos acrescidos para que estas tropas estarão a ser preparadas. Na minha perspetiva, quanto mais for exigente o treinamento mais apertado deve ser o seu controlo, para impedir abusos, exercícios brutais e humilhantes. Tenho para mim que a cadeia de comando conhecia os métodos, os instrutores e preferiu ignorar as enormidades normalmente ocorridas no terreno e que, de uma forma ou outra, são divulgadas baixinho no interior da instituição. Pensavam que ia correr tudo como habitualmente e sem ruído. Mas, não foi assim. E falhou. E deve responsabilizada e julgada por isso.

O Processo de recapitalização da CGD continua a marcar a agenda política. O governo prometeu e mudou o que não devia; os administradores consideraram não ser obrigados a depositar a declaração de rendimentos depois da alteração legislativa que os retirou desse estatuto; a oposição cavalgou as debilidades dos procedimentos governativos que transformou em chicana política das mais agressivas que me foi dado assistir, ressabiados pelo facto do diabo não ter aparecido ao seu chamamento, conforme combinado. Na esquerda o PCP foi muito cauteloso e aos costumes disse nim; o Bloco juntou-se à direita na eliminação da excepção criada pelo Governo e que obrigou mesmo à entrega da declaração de rendimentos. Essa aliança contranatura foi feita em nome da transparência como tiveram oportunidade de esclarecer os bloquistas. Fiquei muito dividido acerca do processo e dos procedimentos. Porque prezo muito o direito à privacidade, porque o uso e abuso da palavra transparência banalizou o conceito que frequentemente não é sujeito a prova e finalmente porque me custa muito engolir este pacto entre o bloco e as direitas. O bloco é da minha família política, os da direita são adversários e custa a engolir um convergência desta natureza e por esta altura de luta política intensa entre as partes. Não conheço Domingues, nem tenho saudades. Mas tem deveres e direitos. O da privacidade, pois então. Se o homem acha que o deve defender e que o seu património não deve ser sujeito a devassa por quem lhe aprouver e se tal lhe foi garantido, porque há-de abdicar desse entendimento? Um homem só contra o mundo. Domingues é a parte mais fraca desta triste história. Não alinho em julgamentos populares ou populistas, ainda que o arguido seja um tipo arrogante que se faz pagar principescamente.

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