Mário Faria
Saí por uns dias e fui dar a Valência. Uma cidade interessante. Na visita à parte velha, fui à catedral e fui surpreendido com o grande aparato de uma cerimónia religiosa que visava a nomeação de um novo cardial. As portas estavam abertas e a entrada foi livre. Eram dezenas de entidades religiosas de todos os escalões da nomenclatura. Entraram pela basílica e deram a volta até aos locais que lhes foram destinados, segundo o seu peso hierárquico. Foram acompanhados nessa digressão por cânticos religiosos produzidos por um coro bem afinado, constituído por jovens seminaristas. Os figurantes civis da governação nacional e loca presentes estavam sentado noutro labirinto. Tiradas as fotografias da praxe e um último olhar sobre o magnífico altar, saí para a rua a pensar naquela cerimónia aberta mas com um cerimonial próprio dos tempos da idade média. Os actores, apesar de idosos, resistiram heroicamente. Não ocorreram desfalecimentos: milagre! O termómetro registava uma temperatura acima dos 35 graus. Nem isso os fez desistir. Segui o exemplo e fui visitar o muito propagado Oceanográfico muito do qual a funcionar a céu aberto. Nos visitantes dominavam as criancinhas, os pais, os avós, as amas e os carrinhos. Os acompanhantes da criançada quase não deixavam nesga para ver a bicheza. Muitos gritos de contentamento e felicidade quando apareciam as “marcas” com maior notoriedade. Não se viram sardinhas, nem chicharros. Os mais aplaudidos foram os tubarões, as orcas e os pinguins. Estes últimos, socialmente muito organizados. Os maiores e mais velhos estavam numa pequena colina artificial, vigiavam todos os movimentos: deveriam ser os chefes da tribo. Os restantes estavam mais próximos da água: os mais jovens entretinham-se em brincadeiras de bate-fica com saltos rápidos para água a fugir do perseguidor, enquanto os jovens adultos dividiam-se apanhar o gelo que caía que interrompiam para vir até cá fora gozar o calor que fazia: uma sauna à medida. Com excepção dos chefes, todos os demais pinguins pareciam bem-dispostos. Não encontrei o crocodilo que era procurado por imensa gente. Um turista aproximou-se de um empregado e perguntou: “aligator?” ao que lhe foi respondido: “enfermo!”. Uma grande desilusão. Os golfinhos não apareceram, dadas as condições atmosféricas. São muito reivindicativos. Do que gostei mais? De sair. A bicheza não nos ligou nenhuma. Olhava-nos com indiferença e desprezo. E pareciam adaptados ao ambiente. Não senti que estivessem saudosos nem presos. Enfim, encontraram a felicidade dentro de um enorme garrafão.
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