Manuel Joaquim
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Escrever sobre quê?
Escrever sobre os milhares e milhares de refugiados, vítimas da guerra e da destruição das suas casas, das suas escolas, dos seus hospitais, dos seus locais de trabalho, sem abastecimento de água, sem alimentos, sem medicamentos, sem nada, e que a comunicação social e os dirigentes políticos tratam por “imigrantes clandestinos”?
Escrever sobre as crianças e bebés ao colo de suas mães, que choram quando têm fome ou quando estão sujas e que acontece a cada duas ou três horas?
Escrever sobre o estado de espírito daqueles pais que não podem responder às necessidades dos seus filhos?
Escrever sobre quem destruiu aqueles países e em nome de quê e para quê?
Escrever sobre os países que têm tropas estrangeiras nos seus territórios e de que nacionalidade são essas tropas?
Escrever sobre quem fornece o treino e os armamentos, as tecnologias sofisticadas e as informações militares aos chamados combatentes?
Escrever sobre os apoios que tiveram e que continuam a ter nos seus países de origem e quais são esses países?
Escrever sobre quem lhes compra as matérias-primas que vão sequeando, designadamente petróleo?
Escrever sobre quem lhes compra as obras de arte que vão saqueando?
Escrever sobre a situação da Ucrânia, da instalação nas fronteiras da Rússia de armamento nuclear e altamente sofisticado?
Escrever sobre notícias que dão Bin Laden vivo?
Escrever sobre medidas legislativas que vão pondo em causa liberdades dos cidadãos a pretexto do terrorismo?
Escrever sobre a China que é acusada de provocar a “segunda-feira negra” nas bolsas mundiais?
Escrever sobre a crise do sistema capitalista e da inevitabilidade da destruição do chamado “capital fictício”?
Escrever sobre o erro de se continuar a considerar a Europa e os EUA o centro do mundo e de tudo girar à sua volta?
Escrever sobre a actual situação social e política portuguesa, com as leituras muito positivas das estatísticas, das sondagens encomendadas e com os discursos sobre futuros investimentos nas escolas, na agricultura e na recuperação das zonas históricas, e por aí fora?
Escrever sobre sair ou não do Euro, que perspectivas se apresentam?
Escrever sobre o “talvez o maior banqueiro mundial”, português, que veio do estrangeiro a uma reunião partidária, a que lhe dão o nome pomposo de “ universidade”, dizer que Portugal tem que crescer, discurso exactamente igual ao do meu barbeiro de há muito tempo?
Escrever sobre banqueiros, sempre os maiores do mundo, desde o Ricardo Salgado, ao Costa do BPN, fazendo lembrar o Mário Conde de quem já ninguém se lembra?
Escrever sobre o maior gestor de Portugal, Bava, que por achaques mentais ou coisa pior, perdeu a memória na comissão de inquérito parlamentar ao caso BES?
Escrever sobre outros gestores, reconhecidos como de grande gabarito pelos jornais que facturam grandes valores por contratos de publicidade negociados com as respectivas empresas?
Escrever sobre o “eminente jurista” que afirma da existência de uma constituição europeia que ninguém conhece e que naquela reunião partidária chamada de universidade vem dizer que o ex-primeiro ministro que está detido em Évora está ser investigado por acção do PSD?
Já está quase tudo escrito e reescrito. Até os livros se vão copiando uns por outros, muitas das vezes virando as histórias ao contrário para parecerem originais.
Mas o processo histórico tem o seu percurso, tem a sua dinâmica, resultante das contradições e das lutas sociais com inevitáveis reflexos nas estruturas organizativas das sociedades.
Aproximam-se a passos de gigante situações novas que é preciso saber interpretar.
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