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01/05/14

A HISTÓRIA SEGUNDO PANGLOSS

António Mesquita

 

"As novas opiniões são sempre suspeitadas, e habitualmente rebatidas, sem outra razão a não ser a de que não são ainda comuns."

(John Locke, ‘An Essay concerning Human Understanding')


Não se fala aqui de verdade, mas de novas opiniões. É admissível, portanto, que, por exemplo, as questões da(e) moda estejam incluídas. Ao princípio 'estranha-se, depois entranha-se', como disse o poeta a propósito duma beberagem exótica.

Mas quanto mais isso é verdade em relação à ideia que põe em causa os nossos preconceitos! E é justo que nos protejamos duma ideia nova, quando ela exige uma 'reestruturação' profunda. Afinal, trata-se de trocar velhos preconceitos por outros novos, ou 'recauchutados'.

Interiormente, qualquer que seja o 'consenso' (que em latim tem a conotação de cumplicidade) a que somos obrigados por 'coerência', ou por simples delicadeza, não podemos deixar de admirar um insigne 'teimoso'.

Quando vemos o que nos parece uma catástrofe ser negado placidamente, porque os 'velhos preconceitos' são mais fortes, e o que nos parece, pelo menos, o fim de um mundo, é visto 'teologicamente', como uma continuidade histórica, prevista desde a mónada inicial, só podemos abrir a boca de admiração.

Pangloss, o célebre optimista de Voltaire, não foi até hoje ultrapassado e ficará para sempre como o modelo daqueles que têm uma confiança absoluta nos seus preconceitos.

Para quê mudar, realmente, o melhor dos mundos?



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