António Mesquita
(Jason Schneider) |
"Diferentemente dos 99%, o 1% nos EUA e no Reino
Unido está muito consciente tanto da redistribuição dos rendimentos quanto do
novo sistema político que a torna possível. E até tem um nome para isso:
plutonomia. É o termo utilizado por alguns apoiantes-chave desta ideologia
política, deste movimento político e desta concepção de governo, cujos
principais intervenientes pertencem ao sector financeiro."
Edward Fullbrook (in "Real Economics", 14/3/12)
Pluto, o deus da riqueza entre os Gregos (mas também
conotado com Hades, o deus dos Infernos) está na origem da palavra.
Plutocracias foram algumas cidades-estado da Antiga Grécia, a república romana
e nos nossos tempos podem-se apontar Wall Street nos EUA e a City de Londres.
O que é novo, é a forma ideológica, perfeitamente cínica,
que assume a supremacia duma reduzida minoria nos destinos do mundo. A
consciência de que, por muitas defesas que as modernas democracias tenham
construído, o poder desse 1% tem a última palavra e se garantiu no próprio seio
das instituições democráticas os dispositivos que reproduzem o seu poder de
decisão e de camuflagem que fazem das críticas marxistas ao funcionamento e à
ideologia do capitalismo parecer a "infância da arte".
O articulista (ver "The Political Economy of the Bubbles")
assinala o aparecimento dum relatório de 2005, encomendado (e imediatamente
sonegado) pelo City Group, como a tomada de consciência, por esse grupo
minoritário, do seu papel fundamental na economia e na política de algumas das
mais poderosas nações, momento que coincidiu com o seu "baptismo"
plutonómico.
O dito relatório considera que, apesar dos
"elementos contraditórios", este tipo de economia nos EUA crescerá
tanto mais quanto maior for a importância dos ultra-ricos. Não seria preciso
mais para se justificar uma ideologia de missão "über alles". Para
apimentar, os analistas do City Group consideram que a China está a caminho de
se tornar também numa plutonomia...
A blindagem das posições ultra-minoritárias no seio do
sistema é assegurada por esquemas como o da "porta-giratória":
"os funcionários das organizações governamentais de regulação, tal como a
'Securities and Exchange Commission' nos EUA, frequentemente mudam de emprego
entre essas instituições e as companhias que era suposto regularem." E,
"cereja em cima do bolo", como as campanhas eleitorais dos candidatos
aos diversos órgãos "representativos", a começar pela presidência,
são verdadeiramente milionárias, a plutonomia assegurou-se de que já não seja
possível dispensar o seu concurso. Assim, as melhores esperanças se afundam com
o peso duma hipoteca, inadmissível em democracia. E nem o descalabro da crise
pode assegurar as reformas necessárias, porque todo o dinheiro dos resgates
pagos pelos contribuintes vão parar às mesmas mãos.
Esta situação, frontalmente anti-democrática como é, só
pode sustentar-se, numa democracia como a dos EUA, com a cobertura dos 'media'
e uma cuidadosa gestão da política-espectáculo.
O mundo assiste, em cada eleição americana, ao mesmo
'show business' que entorpece e engana os cidadãos e parece celebrar as
excelências da democracia. Até o dia em que este 1% sofra o destino dos romanos
decadentes.
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