Mário Faria
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A mobilidade é um dos mandamentos da religião do progresso e crescimento,
cuja igreja se situa em nenhures, mas
preferencialmente num paraíso fiscal,
como gostam de dizer os ateus. Os pontífices e restante nomenclatura (que
embora muito modestamente recusem, são infalíveis na matéria) são os senhores
da finança e da economia. As ovelhas apenas servem paras ser tosquiadas.
Como muito remédio que sabiamente prescreve : “mexa antes de usar”, também a nossa
gente tem de se mexer se quiser (sobre)viver. Mexes-te, logo existes. E, perante
a penúria doméstica, lá seguem muitos cidadãos portugueses para os destinos que
lhes acenam à procura de melhor sorte.
O Governo religioso como é, segue
obedientemente a mesma crença. Querem
ver-se livres dos jovens pelos melhores motivos, detestam os velhos porque são
um encargo e estão apaixonados pelas reformas, que em linguagem corrente
significa despedimento, ou na melhor das hipótese, a precariedade levada ao
extremo.
Este país não é para velhos, salvo alguns predestinados como Catroga que
tem passado, presente e futuro. São o
orgulho da nação. Há pouco dias, tocou o telefone e uma rapariga muito amável
perguntou-me se não me importava de responder a algumas perguntas para uma pesquisa
de uma marca, cujo nome não referiu.
Disse-lhe que sim, desde que fosse breve. Agradeceu e a primeira pergunta foi
se tinha entre os 18 e os 55 anos. Respondi-lhe que era um pouco mais velho,
agradeceu e deixou-me em paz. Somos um pesadelo : comercialmente o nosso gosto,
parecer ou hábitos nem contam para o totobola. É assim : querem a reforma aos
70, excluir-nos aos 55, salvo os catrogas e outros sábios que da lei dos homens
se libertaram, por mérito próprio. Ainda havemos de ser taxados com um imposto
de vida, se tivermos mais de 60 anos e não estivermos no activo.
O meu filho, a mulher e os meus netos vão passar a ser emigrantes. Para
já, para bem perto. Mas este é o pontapé de saída num jogo que pode durar uma
eternidade e disputar-se nos terrenos mais longínquos. Não sei se vão ficar
mais ricos. De certeza, que ficarei muito mais pobre. Dirão os sábios : é a
globalização seu palerma. São os vampiros, digo eu.
Ei-los que partem. Será que regressam ?
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