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01/03/11

MARÇO

Mário Martins

Monet (Champs au Printemps)



Em Março regressa a azáfama com as andorinhas. Flores, cheiros, cores, luz, tudo explode. Lampreias e sáveis sobem os rios para fazerem meninos e morrerem de parto, se não tiverem morrido antes, transformados em preciosas iguarias à mesa dos portugueses que podem e até dos que não podem - c’os diabos, ó mulher, a lampreia ou se ama ou se odeia, uma vez não são vezes, vão-se os anéis fiquem os dedos! -, longe vai o tempo em que o sável era comida de pobres e que a lampreia era manjar exclusivo de nobres e ricos. O tempo aquece. Mãos com hábitos de saber antigo lançam sementes à terra. Projectam-se saídas por estradas e caminhos ensolarados. Por isso, Março era o primeiro mês do ano na Roma antiga, que assinalava o início da temporada das campanhas militares, ou o seu nome não derivasse de Marte, o deus da guerra. Astronomicamente, é o mês do equinócio, da noite igual ao dia, em que a linha da trajectória aparente do sol, a eclíptica, cruza a linha do equador terrestre projectada no céu, rumo a norte, e que marca o começo da Primavera no nosso hemisfério e do Outono no hemisfério sul. É, enfim, o tempo privilegiado de ouvirmos a Sagração da Primavera, essa obra tão inspirada de Igor Stravinsky. Tal como outro grande compositor, Gustav Mahler, “um dia em que o seu assistente, o maestro Bruno Walter, o foi visitar ao seu teórico retiro de férias - na realidade, o laboratório do compositor…-, verificando que ele se colocara na varanda, a contemplar a paisagem, foi retirá-lo de lá, argumentando: - Escusa de olhar…Está tudo na minha Sinfonia!” *, também o compositor russo poderia dizer o mesmo do célebre bailado que, como não raro sucede às grandes obras, tão mal recebido foi pela Paris de há um século.

* Será a 7ª. sinfonia, de acordo com António Victorino D’Almeida, “Toda a música que eu conheço”, da “Oficina do Livro”.


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