StatCounter

View My Stats

01/12/10

UMA QUESTÃO DE CONFIANÇA

António Mesquita
http://deathby1000papercuts.com


“Tanto nas áreas sociais como nos seus domínios tradicionais de acção, é necessário ultrapassar o Estado que temos, que desconfia dos cidadãos e que quer fazer tudo porque acha que só assim tudo é bem feito, e para isso cria normas infindáveis e serviços imensos, e evoluir para um modelo de Administração Pública que confia nos cidadãos e se preocupa sobretudo com assegurar que lhes são prestados os serviços de que necessitam.”

“José Manuel Fernandes” (“O Público” de 12/11/2010)



Foi a este monstro burocrático e frio, que não confia nos cidadãos (mas para que é que as vontades de facto precisam da confiança do Estado?) que teve de socorrer os desmandos dos Madoff nacionais, para agora ser castigado (não ele, verdadeiramente, mas os contribuintes e todos aqueles que têm de confiar no Estado), com os insuportáveis  juros da dívida pública.

Mais uma vez se verifica que as crises, tal como as guerras, não são uma desgraça para todos, pois para os “negociantes de canhões”, como para este tipo de finança, são sempre uma oportunidade de negócio. Se estivéssemos a lidar com super-homens, era até legítimo conjecturar que a crise internacional a que nós, como tantos países estamos expostos, não resulta da ganância cega, mas duma ganância lucidamente maquiavélica que apostou na déblacle para o seu jackpot privado. Mas se são cegos a conduzir outros cegos, eles pelo menos não caíram no precipício, e podem proclamar que o crime deveras compensa, pois não perderam os bónus nem as indemnizações milionárias.

A ideologia da desregulação, introduzida nos anos 80 pela equipa de Reagan e justificada pelos cérebros de Harvard (ver o filme “Inside Job”, de Charles Ferguson), ao serviço dos grandes negócios, levou a este final anunciado. 

Ora, este artigo do “Público”, vem confirmar que as ondas de choque dessa crise mal se fazem sentir ao nível dos neurónios dos que continuam, entre nós,  a defender a libertação do “monstro”, como se a moda da desregulação ainda estivesse em alta ( é verdade que está muito viva, visto que a capital dos negócios, Wall Street, impediu a alteração das leis e os assessores, nomeados por Obama, são “desreguladores” reincidentes). É assim  que JMF protesta quando as horrendas patas do dito libertam os cidadãos, as empresas ou os serviços da sua “dependência”. Por isso clama contra “o fim dos contratos de associação com escolas privadas” e as “medidas anunciadas relativamente à ADSE”, porque “limita a liberdade de escolha dos funcionários públicos.

Donde se verifica que alguns liberais do nosso torrão pátrio são mais inconsequentes do que intratáveis ideólogos, pois acusando o Estado de atrofiar a iniciativa dos cidadãos, contam com o mesmo Estado para quase tudo. Até, quem sabe, para inspirar a falhada iniciativa com mais algum subsídio.

E é certo que o Estado tem, evidentemente, de ser curado das suas “sanguessugas” e moderado na sua incorrigível inércia. Mas não lhe peçam para inventar a iniciativa privada.



Sem comentários:

View My Stats