Mário Faria
A joint venture entre o FMI e o BCE favoreceu o “terrorismo financeiro” que caiu sobre alguns países (da periferia) da Europa. O ADN do capital não contempla a regulação e o estado social. Nesses (breves) momentos em que os aceitou como parceiros, adaptou-se com facilidade. O capitalismo opera como os camaleões. Mestre na camuflagem, espera pacientemente pelas presas que aniquila sem piedade.
Essa “fragilidade” que criou a “necessidade” do capitalismo apresentar-se de forma light e menos indigesta. Foi sol de pouca dura. Deu alguns passos atrás, esperou, criou as bolhas e os produtos tóxicos que infectaram mortalmente muitas economias, e hoje, apresenta-se como vítima do monstro que criou e algoz dos que não resistiram a tanta malvadez.
O Sócrates dá jeito (e pôs-se a jeito) e serve para escamotear essa evidência. O que se trata, neste momento, é que os trabalhadores estão absolutamente indefesos, face à globalização e à explosão do modelo capitalista na China que veio mudar o equilíbrio de forças e “subverter” as regras da concorrência, numa Europa demasiado dividida e dominada pelo capital financeiro. O capitalismo sofre de doença crónica, a UE vai a caminho da implosão e o Euro é uma moeda a caminho da extinção.
O Estado Social vai ser posto em causa e os trabalhadores vão pagar a factura. Conformismo ou luta ? O capitalismo só cede perante a concorrência de uma alternativa credível ou pela luta. O futuro é incerto e pode degenerar em violência. A violência gera violência, e os detentores do capital não têm feito outra coisa senão apelar a esse instinto de guerrilha (e de vingança) que quase apenas sobra para combater os que ofendem, humilham e nos reduzem a meros servidores e nos suportam (apenas) na qualidade de consumidores.
“ O verdadeiro protagonista do actual palco da grande política é hoje, como se sabe, esse (cada vez mais) antagonista do político que dá pelo nome de grande agente económico financeiro. Contrariamente aos príncipes de hoje, que só têm vontade, mas não saber do mundo, o intriguista é o “senhor das significações” e o verdadeiro contra-regra no palco do mundo. O intriguista de hoje trabalha com números, taxas, índices, operações de bolsa o que não deixa de ter as suas vantagens, já que o “saber do mundo” passa hoje essencialmente por aí. Por isso, enquanto o intriguista de outrora levava três actos, ou investia anos de vida para alcançar os seus objectivos, os de hoje passam a perna ao parceiro em dois tempos. E esse parceiro é muitas vezes o “homo politicus”.
O sistema constrói as ruínas do futuro : tudo o que toca se transforma, não em ouro, mas em sucata. É isso o progresso que só conhece uma direcção. Tal como as vanguardas preparam inexoravelmente a sua condição de retaguardas, também o progresso, com as suas novas vestes, deixa atrás de si um campo de ruínas e avança em direcção à sua própria implosão. Nós, apesar de tudo ainda animais de memória, só tarde de mais lhe conheceremos os efeitos. Alguns, em vão, tentarão fugir, mas o sistema continuará a gerar os seus monstros. ”. (João Barrento)
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