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01/05/10

A ESCRITA - Momentos, Lugares e Artefactos

Cristóvão Sá Pimenta

http://catherinealexandre16.free.fr


Ho­je, neste mo­men­to (25-04-2010 02:18:08), deu-​me para ini­ciar um es­crito so­bre mo­men­tos, lu­gares e arte­fac­tos da es­cri­ta.

Mo­men­to que le­va min­ha memória lá para trás. Trin­ta e seis anos antes. Por es­ta ho­ra, ain­da dormia. Alvo­ra­da por vol­ta das seis ho­ras para ini­ciar a úl­ti­ma ron­da do serviço que ini­cia­ra no dia an­te­ri­or. Para­da num grande bulí­cio. Viat­uras de out­ra unidade. Grad­ua­dos que não iden­ti­fi­co. Ap­re­sen­to-​me ao ofi­cial de dia. Apazigua-​me. Man­da-​me es­tar por per­to e diz para não me pre­ocu­par com a ron­da. O Di­nis de Almei­da vo­cif­era. Não aparece o quar­teleiro para abrir o pavil­hão onde es­tão as mu­nições. Man­da en­costar uma Berli­et ao portão. Após veícu­lo imo­bi­liza­do, dá or­dem ao con­du­tor para en­grenar mar­cha-​atrás e acel­er­ar. O portão cai com es­tron­do. As mu­nições são dis­tribuí­das. Pas­sadas umas ho­ras sai uma col­una mil­itar desse quar­tel na Figueira da Foz, para Peniche. Mis­são: tomar o forte de Peniche e lib­er­tar os pri­sioneiros.

Con­tin­uo no ex­er­cí­cio de es­cri­ta. Out­ro mo­men­to (25-04-2010 02:35:10). En­tre as cin­co e meia e as seis ho­ras da man­hã do dia qua­tro de Março de dois mil e dez um toque agu­do, in­ter­mi­tente, in­vade os meus ou­vi­dos. Toque es­quisi­to? Mar­reta­da no des­per­ta­dor e ol­har de soslaio para o vi­sor do des­per­ta­dor. Mer­da. Voltei a en­ga­nar-​me a mar­car a ho­ra do des­per­tar. O “gajo” não se cala. Toque de fac­to es­quisi­to ou é do sono. No­va mar­reta­da. A um no­vo toque diz-​me a mul­her en­son­ada: Pi­men­ta é o tele­fone, não é o des­per­ta­dor. Ligo o can­deeiro. Sen­to-​me na ca­ma e já adi­vin­han­do a razão de tan­ta estridên­cia, to­do o meu cor­po se si­len­ciou para ou­vir do out­ro la­do a notí­cia que adi­vin­ha­va. A Ros­ali­na Arou­ca par­tiu ao reen­con­tro do Zé Pi­men­ta. Para esse es­paço etéreo, que sem­pre de­se­jamos longín­quo mas mo­men­tos há que o sen­ti­mos per­to.

Num out­ro mo­men­to (25-04-2010 02:52:52), viven­cio ain­da bem um dia de fortes emoções. Vinte e dois de Abril de dois mil e dez: ali, de­spo­ja­do, vul­neráv­el, hu­milde mas ao mes­mo tem­po com força para en­frentar mais um mo­men­to de avali­ação. Próx­imo das três ho­ras da tarde. A lib­er­tação e a de­scom­pressão. E mais um son­ho con­cretiza­do. Mas a min­ha in­qui­etação vai con­tin­uar. Con­tin­uo a ou­vir a Ros­ali­na: Oh Manel?! Porque con­tin­uas a es­tu­dar? Nun­ca lhe re­spon­di. Ago­ra que es­tá lá em cima a ol­har para mim di­go: é por tua causa mãez­in­ha. Sem­pre me es­tim­ulaste a procu­ra do Saber. De ti não es­queço os hábitos de leitu­ra e de es­cri­ta (sei que às vezes às es­con­di­das). Ain­da não pe­di à mana as tuas agen­das. Quero lê-​las. Al­imen­tar-?me do que lá es­creveste. E re­to­car de tons de rosa as agruras da vi­da que su­por­taste.

Mo­men­tos de in­spi­ração, não. Muito mais mo­men­tos de tra­bal­ho. De ex­er­cí­cio. Per­gun­taram ao Pe­dro (eu ou­vi, com es­tas orel­hin­has grandes que sei ter) um dia: co­mo é o teu pro­ces­so cria­ti­vo? Co­mo con­stróis as tuas canções? Co­mo com­pões? É quan­do es­tás in­spi­ra­do? Qual quê, re­sponde. Para is­so teria de an­dar sem­pre com o pi­ano de­baixo do braço, o que não dá muito jeito. Con­clui: quase to­dos os dias es­tou ao pi­ano du­rante três a qua­tro ho­ras. E en­tão há mo­men­tos em que “sai” al­go de in­ter­es­sante, re­sul­ta­do daque­le tra­bal­ho so­bre o in­stru­men­to.

E os lu­gares para a es­cri­ta. To­dos os que me for­tale­cem a mente, me ilu­mi­nam o cam­in­ho e me am­bi­en­tam os de­dos.

E os arte­fac­tos. Ain­da gos­to de sen­tir uma cane­ta en­tre os de­dos a per­cor­rer a su­per­fí­cie bran­ca do pa­pel, virgem e im­po­lu­ta. Es­peran­do in­de­fe­sa a man­ifes­tação da min­ha vi­olên­cia. Mas eu até acho que não sou ca­paz dis­so. En­tão o tecla­do e o écran, nu­ma com­posição híbri­da de hu­mano e tec­nolo­gia, serve os meus pre­ten­siosos ím­petos de es­cri­ta.

E as­sim… o úl­ti­mo mo­men­to (25-04-2010 03:20:41).

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