Mário Faria
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A crise da Grécia mostrou toda a fragilidade da construção europeia. Os ricos raramente pagam a crise, então porque é que a Alemanha haveria de ser excepção ? Portugal está a apanhar, em cheio, com as ondas de choque da recusa alemã em colaborar na solução da tragédia grega. Dos fortes é que reza a história e quem tem o ouro é que dita as regras.
A Inglaterra – sempre saudosa do passado imperial - também se apressou a saltar do comboio europeu dos aflitos : os grandes perfilam-se para varrer os mais débeis e com menos curriculum. Portugal foi apanhado nesta tempestade, como um barco cheio de buracos e quase sem mantimentos. O homem que vai ao leme é acusado de não saber navegar e o resto da tripulação de não saber nadar. O naufrágio está à vista.
Enquanto as nuvens se adensam, os trabalhadores, cansados de serem as principais vítimas em todas as crises, animam greves exigindo justas remunerações, mesmo sabendo que não há mais dinheiro para ser distribuído e que os ricos não estão dispostos a pagar a crise. Enquanto os assalariados estão dependentes de quem tem o ouro, aos proprietários do vil metal não faltam paraísos para colocar a salvo o património que construíram a pulso, como gostam de declarar.
As elites detestam o país porque não sabe honrar a privilégio de ter gente tão notável; o povo prefere Espanha, como os valencianos tão exuberantemente demonstraram. Numa coisa parecem as duas partes estar de acordo : das culpas do Estado. Querem mais e exigem mais.
O Governo, às voltas com o PEC, pôs o país à beira de um ataque de nervos e Sócrates nos passos de Coelho, depois das ameaças das agências de anotação que nos elegeram como o inimigo público número dois, logo a seguir à Grécia. Depois de dias tempestuosos, o corte do rating provocou um vendaval : a Bolsa caiu para 5,36%, com ordens de venda, vindas do exterior, e no mercado da dívida, os juros das obrigações dispararam para 5,2% a dois anos e 5,5% a 10 anos.
Enquanto o país assiste indefeso a este ataque do terrorismo financeiro internacional, o nosso parlamento apresenta, em directo pela TV, o trabalho da Comissão de Inquérito (sobre a ameaça da tomada da TVI pela PT), o que deveria ser proibido, dada a pornografia política explicita que essas transmissões exploram despudoradamente.
Estamos tramados e mal pagos. As políticas sociais serão suspensas por tempo indeterminado e os vencimentos seguirão a penúria do país. Há que fazer sacrifícios. Infelizmente não temos alternativa e até me atrevo a arriscar que o mal menor para os sacrificados de sempre é aguentar mais uma vez, com a coragem dos sobreviventes, esse cruel destino a que eternamente parecem sujeitos.
Conformismo e bom senso será receita ? Acho que não, mas temo que sim !
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