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01/07/09

ANJOS E PREDADORES (I)

Mário Faria

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Em:

A 6 de Abril de 2002, Durão Barroso tornou-se primeiro ministro de Portugal. Destacou-se pela política de contenção da despesa pública (onde sobressaiu a actividade da sua ministra das finanças, Manuela Ferreira Leite) e pelo apoio à invasão do Iraque em 2003, uma decisão que, de acordo com as sondagens, era contrária à opinião de parte dos portugueses. O seu discurso da tanga foi muito aplaudido e contou com muitos seguidores.

29 de Junho de 2004, Barroso anunciou a sua demissão, para assumir o cargo de presidente da Comissão Europeia, remodelada e com mais poderes, sucedendo neste cargo a Romano Prodi, depois de o seu governo ter apoiado António Vitorino (?) como candidato português para este cargo. O facto de Durão ser de direita, aliado de Bush na guerra, fluente em francês e ter desempenhado a preceito o papel de lacaio na cimeira dos Açores de 26 de Março de 2003 explicam a opção.

E o que publicava a direita :

Infelizmente o facto de a CGTP continuar a carregar com a tralha ideológica da luta de classes não é um assunto que só diga respeito a Carvalho da Silva. É uma circunstância que actualmente lesa directamente os interesses dos trabalhadores portugueses e que, tudo indica, virá a lesar ainda mais no futuro. Como podem os trabalhadores ser representados nas suas reivindicações por gente que pensa no passado, actua no passado e, pior, que se pudesse regressava ao passado ? (Helena Matos : Dezembro de 2002)

O ciclo das "conquistas irreversíveis e dos direitos adquiridos" acabou. Aliás, nunca houve, com precisão técnico-jurídica, direitos adquiridos. Ainda, hoje, há ou pode haver expectativas juridicamente tuteladas, nada mais do que isto. (Ligório Afonso Pereira : Novembro 2002)

A estabilidade entendida como "apropriação dos postos de trabalho" pelos trabalhadores/empregados, tende cada vez mais para se tornar virtual. O paradigma juslaboral a que nos habituámos não é sustentável sem reforma. Por várias razões, mas sublinho uma delas. É que se baseia na redução, ao mínimo possível, da concorrência entre trabalhadores no mercado do trabalho, bem como da margem de liberdade contratual do empregador para gerir os recursos humanos. O monopólio sindical da contratação colectiva do regime português manifesta efeitos perversos típicos dos monopólios. (Mário Pinto : Novembro 2002)

Movimentos políticos e pró-europeístas e favoráveis ao federalismo como o Movimento Europeu, foram criados, controlados e financiados exclusivamente pela CIA ....E no entanto quem tem errado nas suas análises e previsões, umas atrás das outras, tem sido muitos destes europeus, que se acham milhas acima do intelecto de Bush, como aliás já pensavam o mesmo de Nixon e de Reagan, hoje considerados dos mais importantes presidentes americanos do século XX. (Pacheco Pereira : Novembro 2002)

No fundo, reflexo de uma insensibilidade "bem pensante" que, do púlpito, minimiza como ignorantes ou primitivas preocupações com a segurança, o crime, o crescente número de imigrantes, a tecnocracia da União Europeia, a perda de identidade nacional. Essa pequena minoria, de facto, ao decretar o que é "respeitável" ou "aceitável" discutir e o que não é admissível discutir deixou de ouvir as pessoas, sufocando o debate público. Em vez de agir, prega. Em vez de escutar, prefere ouvir-se a si mesma, na certeza de que tem razão. Essa distância snob entre a classe política e os cidadãos pode, de facto, pôr em causa o futuro da causa democrática. (José Pedro Zúquete : Maio de 2002)

A sustentabilidade futura do sistema público de pensões depende da primeira dessas leis : dar um mínimo de competitividade, flexibilidade e cultura de exigência ao mercado do trabalho impõe a profunda revisão das leis laborais que o código propõe. (José Manuel Fernandes : Agosto de 2002)

O socialismo perdeu a teoria e a doutrina de acção. Ficou só com o sentimento, a retórica e meia dúzia de causas dispersas. (Vasco Pulido Valente : Agosto de 2002)

Mais do que a flexibilidade, o principal défice da economia portuguesa é um défice de qualidade dos nossos trabalhadores especializados e não especializados. É aí que estamos a perder..." (Edgar Secca : Novembro de 2002)

É também isso que querem os empresários portugueses quando reclamam leis laborais menos rígidas, logo mais flexíveis : ter menos empregados nas suas empresas (e, já agora, ainda mais disponíveis para ajustarem horários, mudarem de funções ou irem trabalhar para outro sítio) para, por essa via, reduzirem os custos com pessoal e assim obterem ganhos na colocação do produto ou do serviço no consumidor final. (Luís Costa : Dezembro de 2002)

É necessário apertar o cinto, diminuir o crescimento de salários, aumentar o desemprego, permitir os despedimentos, privatizar os serviços públicos, investir e inovar. É urgente realizar uma reforma de mentalidades…. Inventar as virtudes do défice e defender as potencialidades do endividamento, como fazem os governos de alguns países europeus e as oposições de quase todos, é assumir a irresponsabilidade e a demagogia como critérios de vida. Ora, cuidar do défice e da dívida é tratar da RESPONSABILIDADE E DA SERIEDADE. Travar a dívida e eliminar o défice, de modo consistente e com determinação, é zelar pela segurança dos portugueses e pela igualdade social…. (António Barreto : Dezembro de 2002)


Os problemas de atraso estrutural de Portugal não se resolvem num ano, e necessitam pelo menos de uma década de esforço sustentado e, mesmo assim, pode vir a revelar-se ser pouco. Quer isto dizer muito claramente que o clima de austeridade, no Estado e no país, não pode ser apenas para 2003, mas para muitos mais anos seguintes. (José Pacheco Pereira – Janeiro de 2003)

Os putativos decisores da iniciativa Compromisso Portugal apoiam as reformas do Governo, conforme o curioso título de um diário económico da nossa praça. E o que publicaram, em síntese, os 550 promotores do dito Compromisso em Abril/2004. Aí estão elencadas as boas causas que esses sábios generosos deixaram a todos os homens de boa vontade :

Um estudo divulgado há uma semana por uma empresa de recursos humanos e por uma escola de gestão europeias diz que os gestores portugueses padecem de fraquezas graves para os tempos competitivos em que vivemos: autocráticos, ineficientes, formais, pouco criativos e não se preocupam com as necessidades dos Clientes." (Lurdes Ferreira : Maio de 2002).

Nota : Peço desculpa pela interrupção. O artigo continuará no próximo número. Voltaremos ao presente e daremos uma olhadela pelo futuro.


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