Um fresco da Basílca de S. Petrónio, em Bolonha, "O Inferno", de Giovanni da Modena (1410 c.), mostra-nos o suplício dos corpos dos condenados ao fogo eterno. Em cada cova em que o fundo cavernoso se divide, um ou vários monstros cornudos atacam um vício particular. E ao centro, um grande animal cinzento leva à boca um homem do qual já não se vê a cabeça, enquanto por uma outra boca situada no sexo sai outro homem com a cabeça e os braços de fora. Não há dúvida de que se trata dum parto, mas do que entra pela boca do pecado.
O que se celebra aqui, contra todas as aparências, é o triunfo da vida que não acredita nestes horrores. Porque todos os pecadores deviam pagar o preço de ignorarem a morte enquanto viveram, de não ouvirem os avisos e as ameaças inúteis. Agora, não adianta arrependerem-se, terão uma eternidade para expiar terem sido tais como Deus os fez.
A condenação de Platão era a de voltarem a escolher o saco com a mesma sorte, depois de beberem a água do esquecimento. Nada de particularmente sádico nesta reincidência da natureza humana. Mas no espectáculo dos corpos do fresco de S. Petrónio e desses demónios côr de roedor ou de lagarto está um dos rostos, não da eternidade, mas da necessidade política. Não é a alma que se quer salvar com essa previsão dos fogos do Inferno, mas a ordem.
E é por hoje não sermos tão crédulos que o Inferno deixou de ser edificante e pôde ser oficialmente encerrado.
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