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01/05/09

DAS TUAS MÃOS

Cristina Guerreiro


As tuas mãos estão tão parecidas com as do teu pai.

A partir daquele dia várias vezes ao dia olhava para elas, observava as pintas que aos poucos os anos vão salpicando pelo dorso das mãos. Tentava lembrar-se das que lhe tinham servido de original, se as pequeninas manchas também tinham procurado no mesmo sitio assento bom para ficar, por vezes fechava os olhos, via essas mãos grandes maiores ainda, as suas pareciam encolher-se e desaparecer num rolo apertado dentro daquele ninho mantendo-as quentes.

O pai tinha sempre as mãos quentes. Nunca soube como ele fazia aquele truque, mesmo com muito frio as mãos eram sempre quentes. E fortes, conseguiam abrir qualquer frasco, puxar as cordas dos baloiços, partir paus e outras coisas assim.

Grandes e fortes.

Abraçavam para dentro do peito. Por vezes doía de tanto.

A partir daquele dia e várias vezes ao dia olhava as suas mãos.

Escreveu sobre as mãos do pai, o que elas tinham feito, dessas pintas salpicadas que chamam o tempo, das funduras entre os ossos onde se contam os meses do ano.

Percebeu que as mãos eram tão parecidas com as dele porque lhe guiavam o lápis no caderno a desenhar as letras. Eram um decalque de amor.


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