Mário Faria
É vulgar surgirem no nosso país grupos de personalidades, quase sempre os mesmos, ou seus derivados, sejam empresários, senadores, sábios ou doutores que se reclamam de procuradores de soluções para a situação de declínio económico que Portugal vem atravessando, cronicamente e desde há alguns anos.
Estes grupos (convencionais ou de opinião), sempre preocupados com os destinos do país, suscitam-me frequentemente a interrogação: que Portugal os preocupa?
Será o do cidadão comum, pagador de impostos, cuja receita é desbaratada no consumo de bens essenciais, e sobre cujo quotidiano se abate o gigantismo da administração pública e a voracidade das empresas públicas, ou de capitais públicos, detentoras do monopólio da prestação de alguns serviços, onde se acumulam os boys que ganharam o direito àqueles jobs?
Será dos trabalhadores por conta de outrem, de pequenas, médias e grandes empresas que vivem na corda bamba, entre precariedade, baixos salários, pressão tremenda, concorrência cega, desemprego à porta, lay offs, despedimentos colectivos, falências e todas as manobras possíveis que o mercado utiliza e carece na reestruturação empresarial?
Será dos agricultores, pescadores, mineiros e outras profissões de menor notoriedade social de que raramente se fala e cujas tarefas o acordo de integração na UE estrangulou?
Será dos desempregados, reformados e velhos que vivem e são uma praga para o erário público que os suporta porque (ainda) não é possível exterminá-los?
Ou será aquele Portugal do “jet-set”, da feira das vaidades das publicações cor-de-rosa da área económica e da outra, que exibem nas capas as suas fotos, usualmente legendadas com epítetos demasiado elogiosos, quando comparados com os correspondentes desempenhos?
Não deixa de ser interessante que esses grupos (convencionais ou de opinião) pretendam, agora, que a “sociedade civil” (o que é isso?) pressione o Governo a realizar as mudanças indispensáveis. Como? Agravando os impostos dos que mais têm? Bloqueando os aumentos das remunerações escandalosas? Regulando o mercado? Apoiando os sectores mais frágeis? Aumentando o investimento público? Nacionalizando todas as instituições financeiras geridas e levadas a falência por “brancos de olhos azuis”, que nunca erram e raramente se enganam? O problema é que, se essas mudanças vierem, logo se levantarão num coro de protestos daqueles que estão contra: por razões políticas, motivações corporativas ou porque se sentem excluídos.
O apelo destes grupos (convencionais ou de opinião), sem qualquer tipo de juízo preconceituoso, faz lembrar o general que exortava as suas tropas, na véspera de uma batalha, da seguinte forma : “Preparemo-nos e … vão !!!”
Parece-me que a forma de atacar o problema está a ser vista ao contrário. Comecem esses notáveis a pôr a mão na massa que cria obra e não se fiquem apenas pela exibição de gestos e palavras que vendem a muito bom preço, para fazer, dizer ou escrever trivialidades.
É bom que o ataque à crise não se fique na criação de mais observatórios, comissões, manifestos e discursos, idênticos aos saídos de iniciativas anteriores, cujos efeitos na situação económica e no tecido social portugueses nunca foram sentidos.
Um dos notáveis que se vai candidatar como cabeça de lista para as próximas eleições europeias, ditou a receita: “ Como há décadas ensina a social-democracia europeia, é um mix de liberdade e de solidariedade, de concorrência e de igualdade, de mercado e de Estado que reside a virtude.” A virtude? Que virtude? Não há pachorra.
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