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01/10/08

O MUNDO NO SHOPPING CENTER

António Mesquita
http://www.grunbauer.nl/afbeeldingen/Sloterdijk02.jpg



"Na realidade, no mundo pós-histórico, tudo deve ser orientado para o futuro porque neste é que reside a única promessa que devemos absolutamente fazer a uma associação de consumidores: o conforto não parará de fluir e de crescer."

"Palácio de Cristal" (Peter Sloterdijk)



Se não fosse certeiro, a este juízo sobre o pós-histórico, quase apetecia aplicar-lhe a verdade de La Palisse de que não se aprecia suficientemente a paz quando não nos atormenta a guerra.

Mas esse juízo é também propício ao discurso moralista que, a pretexto de se preocupar com o que tão clamorosamente escapa ainda ao chamado pós-histórico e parece confirmar constatações com mais de um século de existência, desvia o olhar das tendências que ameaçam tornar este mundo irreconhecível.

Certeira é, igualmente, esta ideia duma metástase do consumismo (outra das tendências com largo futuro no país que foi o de Mao Tsé Tung) na própria base do sistema social, o grau zero da política como associação de consumidores.

Estamos, talvez, mais conscientes do que nunca dos lugares vazios outrora ocupados pelos grandes referentes, pelas entidades maiúsculas.

O filósofo diz que "o mal moderno é a negatividade desempregada". Tudo o que é contra o homem ou contra a vida não decorre de princípio nenhum, metafísico ou não, mas parece-se com um lance de dados, só absurdo porque precisamos de lhe encontrar um sentido.

Os deuses sempre foram caprichosos, isso é sabido. Mas só nos respectivos domínios. Quanto ao essencial, obedeciam ao pai dos deuses, e este à Necessidade.

Se há um novo paganismo, a cidade dos deuses parece-se com a fratria parricida de Freud, mas sem a mínima ideia de culpa.

A nova importância do futuro decorre desta desvalorização da memória. O passado não diz nada a quem não tem uma promessa por cumprir, um sonho traído ou um crime para expiar. Enfim, tudo o que caracteriza a ideia do sujeito (judaico ou não) , que se mede sempre pelo que já foi. É esse sujeito que pode fundar a política no espaço público. Não a mónada das comunicações de massa.

A ideia platónica do Bem fez assim uma translação para fora da alma, e de transcendente passou a objectivo mundano, coisa entre coisas, convenientemente afastada à medida que dela nos aproximamos.


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